Antes de mais nada, é cabível destacar que o propósito desta edição da coluna não é questionar o “merecimento” de determinados artistas e participantes que foram beneficiados por fã-clubes em votações de programas, mas abordar a “interferência” que existe por parte deles.

Neste domingo à noite, na praça de alimentação de um shopping em São Paulo, frequentadores acompanhavam o troféu “Melhores do Ano” da Globo, que se passava em algumas TVs espalhadas pelo local. Em uma mesa, ao lado da minha, um senhor, de cerca de 45 anos, acompanhado de outro rapaz, assistia atentamente a atração. No momento em que Rafael Vitti foi anunciado como vencedor da categoria ator revelação, e agradeceu aos fãs dizendo que “acompanhou o esforço deles” nas votações, o senhor sorriu de maneira irônica e comentou com o rapaz: “Olha aí, ele acabou entregando que só ganhou por causa desses ‘fãs de internet’”.

Hoje, em uma matéria do “Vídeo Show”, quando Isabella Santoni, que ganhou um troféu, e também agradeceu aos fãs que votaram nela, revelando que alguns chegaram a “virar a noite” fazendo isso, acabei recordando o comentário desse senhor e achei oportuno fazer essa edição, uma vez que esta questão de “interferência” de fã-clubes em votações de programas é um assunto bastante pertinente nos últimos anos. Vale ressaltar que Vitti e Santoni formaram par romântico na última temporada de “Malhação”, sendo os principais responsáveis por impulsionar a grande repercussão que a novela obteve nas redes sociais.

Os realities são os principais alvos desse tipo de discussão, justamente por promover com frequência votações abertas ao público através da internet. A 14ª temporada do “Big Brother Brasil”, por exemplo, ficou marcada pelo apelo que Vanessa Mesquista e Clara Aguilar acabaram conquistando nas redes sociais. O desfecho desta temporada do reality gerou polêmica. Na ocasião, Clara e Vanessa acabaram sendo finalistas, a última campeã. Na época, muitos chegaram a afirmar que a posição das duas deu-se principalmente por “intervenção” ativa e direta de seus fã-clubes nas votações, não representando a opinião “real e da maioria do público” que acompanhava a atração.

“A Fazenda” é talvez o principal alvo dessa situação. Os mais antenados em redes sociais garantem que, principalmente as duas, ou até mesmo as três últimas temporadas do reality da Record (incluindo a deste ano), foram “definidas” por fã-clubes, que se uniram e chegaram a “floodar” as votações na internet. As últimas três temporadas acabaram como vitória de Barbara Evans, DH Silveira e Douglas Sampaio, respectivamente. Antes da final, nenhum deles chegou a ser apontado como grande favorito ao prêmio principal.

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A questão é que para cada “voto simples” de um “espectador independente” de determinado programa, haveria dezenas de outros votos contras vindos de internautas ligados à fã-clubes. Daí surge a discussão em torno de que muitas vezes, os resultados de votações não representariam a decisão da maioria dos espectadores, que não são exatamente usuários fiéis de redes sociais e que não fazem parte de fã-clubes.

Os tempos são outros, não dá para negar que hoje, as redes sociais são as principais ferramentas de comunicação, e por isso, são cada vez mais exploradas pelas emissoras. Mas para evitar reclamações como as daquele senhor no shopping, além de tentar conseguir em votações, porcentagens que realmente “representem a opinião da maioria dos telespectadores”, as atrações deveriam adotar um método que “dificultasse a vida” de fã-clubes, solicitando, no ato do voto, cadastro por CPF, criando limite de voto por IP, etc – atualmente, a maioria das atrações não impõem limite de votos por pessoa.

Se as emissoras e programas realmente prezam pela opinião real do público, métodos do gênero deveriam ser adotados, afinal, os resultados devem justificar os meios utilizados para obtê-los, caso contrário, questões desse tipo podem ganhar mais corpo, desencadeando uma perda de credibilidade nas votações.

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