“Não acredite em tudo que você vê na televisão”. Essa é uma frase antiga, que talvez tenha surgido ainda em décadas passadas, quando a TV brasileira abusava da “dramaturgia” vendida como verdadeira em programas de entretenimento e até jornalísticos, com o intuito de provocar sensacionalismo e conseguir audiência a qualquer custo em meio à famosa “guerra” por números.
Uma resposta positiva à pergunta “Você se incomoda com as ‘armações’ na TV?” seria até óbvia, afinal, quem iria se sentir bem sendo ludibriado ou aceitar complacentemente o fato de emissoras e programas tomarem esse tipo de atitude? Mas por incrível que pareça, existem sim pessoas que destoam dessa questão. E é diante disso que a edição de hoje da coluna vai propor uma discussão sobre essa situação, e não exatamente julgá-la.
Nas últimas semanas, o “Pânico” vem apostando no quadro “Zé Pequeno do Consumidor”, protagonizado pelo ator Leandro Firmino, que ficou marcado por interpretar o emblemático personagem Zé Pequeno no elogiado filme “Cidade de Deus” (2002). Na atração, Firmino revive seu famoso personagem e repreende de maneira agressiva supostos anônimos que agem de maneira questionável nas ruas e estabelecimentos. Na última edição, por exemplo, “Zé Pequeno” “esculachou” indivíduos que desrespeitavam idosos. O quadro, apelando para o popular, se tornou o novo sucesso do humorístico da Band, mas junto a isso, vieram acusações de internautas de que muitas ― ou todas ― as situações retratadas na atração seriam “armadas”. O mais curioso é que nas redes sociais é possível encontrar, em meio às reclamações de supostas “armações”, usuários que defendem o programa, usando a ideia de que “o mais importante é o entretenimento”, logo ignorando o fato de que as situações apresentadas na atração são vendidas ao público como verídicas.
A grande verdade é que situações como essas são bastante recorrentes na televisão brasileira. As pegadinhas e programas de conflitos familiares são os principais alvos de acusações, sendo que as “armações” apresentadas nessas atrações já chegaram até a serem comprovadas por meio de atores e figurantes que participaram de gravações. Isso surge até por uma simples questão de lógica, já que muitas situações iriam expor e prejudicar participantes reais, colocando a emissora e o programa sob risco de processos judiciais.
Por mais que alguns apresentadores se esforcem em afirmar que tudo que o público vê na tela é verdadeiro ― mesmo com casos que chegam ao cúmulo do ridículo e do constrangedor ― , fica claro que não há a menor possibilidade de haver uma confiabilidade integral. Talvez seja um esforço em vão, que só reforça uma suposta falta ética para com os telespectadores.
Com tudo isso, é possível chegar à conclusão de que existem três públicos distintos que acompanham esses tipos de programas: os que nem cogitam a possibilidade de “armação” e são facilmente ludibriados; os que têm conhecimento da suposta “armação” e se revoltam; e os que sabem da possibilidade de “armação”, mas se divertem com os programas e defendem a ideia de que o que vale é o entretenimento. E é principalmente com base nesse último tipo de público que a coluna quer lançar um debate e tentar entender qual o real pensamento da maioria dos telespectadores brasileiros: você, como telespectador, concorda que o mais importante na televisão é o entretenimento, independente da forma como ele é apresentado?
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