Panorama atual das emissoras – Parte 2: Record


(Foto: Divulgação)
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Vamos dar continuidade a nossa série especial em três edições que traça, sob um olhar crítico, um panorama atual das três principais emissoras de TV do país: Globo, Record e SBT. Na semana passada, abordamos o SBT, com seus problemas administrativos (clique aqui e leia). E hoje, vamos falar sobre o atual momento da Record.

Ainda em 2015, a exemplo do SBT, que também encontrou sua “galinha dos ovos de ouro” através das novelas infantis, a Record “descobriu” os folhetins bíblicos. “Os Dez Mandamentos” marcou o surgimento de uma “nova era” de produções dramatúrgicas na emissora. O seguimento contínuo de exploração de um gênero pode ter diversos pontos de vistas. A emissora de Silvio Santos, por exemplo, não vê razão alguma para abandonar neste momento as produções infantis. É a tal frase de que “em time que está ganhando não se mexe”. A Record segue uma linha de pensamento semelhante, e não dá indícios de que pode abrir mão das novelas bíblicas tão cedo. Existem pelo menos dois novos projetos do gênero engatilhados na emissora (“O Rico e Lázaro” e “Apocalipse”). No entanto, há quem possa ver essa estratégia como algum tipo de “acomodação”, e que tamanha a exploração, poderá se desgastar muito em breve. A questão é que cada emissora possui seu carro-chefe e trabalha dentro da sua realidade. Talvez a única exceção seja a Globo, que opera com vários segmentos consolidados e busca repertório sem muita margem de risco.

No caso da Record, vale ressaltar que a emissora também passou a trabalhar com duas frentes de produções de dramaturgia diária, algo que deve ser enaltecido. A emissora abriu a faixa das 19h30 para exibição de novelas de época e medievais. Com “Escrava Mãe”, os números de audiência não chegaram a ser surpreendentes, risco que a emissora já tinha conhecimento, uma vez que concorre com os já consolidados folhetins da Globo no horário. De qualquer forma, alcança seu objetivo de permanecer na vice-liderança. A estratégia de produções de novelas nesta faixa pode ser questionável, neste momento, do ponto de vista do custo-benefício. Porém, é extremamente importante para a TV brasileira, no geral, a movimentação e produção de conteúdo inédito e original, de preferência dramatúrgico.

Em uma comparação superficial com o SBT, podemos verificar a discrepância neste sentido, principalmente no que diz respeito a investimento. Se por um lado, a emissora de Silvio Santos possui o carisma necessário para fisgar o público, a Record tem o investimento suficiente para realizar produções inéditas e de custo muito mais elevado se comparado com as atrações infantis. Para a emissora da Barra Funda, no entanto, ainda falta o mesmo fascínio oferecido pelo concorrente, o que torna a disputa pela vice-liderança algo tão acirrado. Cada um com seus recursos. Na teoria, se pudéssemos levar em consideração apenas a questão do investimento, a Record seria a única emissora no país com poder suficiente para abrir uma disputa com a Globo pelo primeiro lugar. Na prática, porém, isso não ocorre, o que definitivamente prova que na televisão, verba é um fator importante, mas não é determinante.

Sobre a linha de shows da emissora, mas precisamente os programas de auditório, é notável a presença excessiva do assistencialismo. Com exceção do “Legendários” e do programa da Xuxa, todas as atrações do gênero passaram a explorar esse segmento: “Programa da Sabrina”, “Programa do Gugu”, “Hora do Faro” e o “Domingo Show”. Esses dois últimos são os campeões. E desta forma, o assistencialismo também tornou-se carro-chefe da emissora. É uma questão que pode até dividir opiniões, isso porque, envolve muito o lado social e humano. Diante dos problemas generalizados enfrentados pelo nosso país, os programas de TV tornaram-se um “auxílio”, ajudando a realizar sonhos. Isso não é novidade na televisão brasileira e nem de exclusividade da Record. A questão crítica é justamente a exploração do drama de pessoas e a repetição massacrante de pautas. É praticamente impossível sintonizar a emissora nos fins de semana e não dá de cara com “Garotinho sanfoneiro vai realizar sonho”, “Vovó divertida ganhará presente surpreendente”, “Mulher vai rever família após anos”… Estamos falando de televisão. Falta mais entretenimento de qualidade, criatividade e capacidade de viabilizar um meio de até auxiliar pessoas carentes, mas diminuir a carga de exploração e drama em cima disso. Podem até serem “histórias do povo”, como sempre repete Geraldo Luís, mas a maneira como essas “histórias” são contadas não precisariam ser necessariamente mostradas, repetidas e exploradas da maneira que são atualmente. Mas qual é o resultado de tudo isso? Audiência. Isso é o que gera a exploração. Gugu, Geraldo e Faro, por exemplo, em um passado não muito distante, sempre que tentaram se aventurar com pautas mais voltadas para o entretenimento, fracassaram. A aposta no assistencialismo foi e vem sendo “tiro e queda”. É isso.

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Por outro lado, a contratação de Fábio Porchat para o comando de um novo talk show deu um ar diferente a linha de shows da Record. Apesar de ainda estar atrás de Danilo Gentili, do SBT, tanto no aspecto de desenvoltura como na audiência — o que chega a ser natural — , Porchat é uma aposta positiva da emissora. A faixa da madrugada começou a ganhar mais atenção dos executivos, principalmente após os investimentos recentes feitos pelo SBT, e tornou-se um bom escape para as emissoras. Vale realmente a pena uma atenção especial nessa faixa.

Administrativamente, a Record também não chega a ser perfeita em todos os aspectos. Podemos citar aqui o caso recente com Geraldo Luís. Claramente subestimando o apresentador, a emissora aplicou uma punição desproporcional. Foi aí que surgiu o interesse do SBT na contratação do Geraldo, e a Record pôde só assim se dar conta de que seria desastroso perder o apresentador, que a frente do “Domingo Show”, tem números surpreendentes de audiência, e ainda poderia reforçar o principal concorrente. A punição que revelou total desprezo foi revertida logo nas primeiras especulações de transferência do apresentador para o SBT, e de subestimado, Geraldo tornou-se peça importante e valorizada na Record, que posteriormente, chegou a quase postular o apresentador para comandar uma atração diária, algo que não se concretizou. Mesmo assim, Geraldo ainda acabou ganhando uma faixa de reprises na programação. Foi uma verdadeira “comédia de erros” da emissora nesse caso.

O atual slogan da Record, “Reinventar é a nossa marca”, não reflete muito na prática. Ao contrário do SBT, por exemplo, o alto comando da Record até aparenta está disposto a se aventurar por novos caminhos, mas sabe que a ideia pode resultar em fracassos e prejuízos. Fica a impressão de que a emissora não tem um público muito aberto a esses novos caminhos. É um público específico, que gosta apenas “disso” e não “daquilo”. Um exemplo são as séries contemporâneas produzidas pela emissora, que apesar da qualidade, não dão retorno em audiência. Uma mudança de conceitos, para alterar a visão desse público ou atrair novos telespectadores, levaria tempo para se consolidar, e tempo custa dinheiro, principalmente na televisão, e sem a garantia de que alcançará êxito algum dia. Assim, enquanto não encontra uma solução eficaz que faça o desejo de inovação caminhar junto com bons resultados, a Record até tenta trazer novidades, mas segue apostando mais em atrações de retorno imediato e gosto controverso.

As opiniões aqui retratadas não refletem necessariamente a posição do TV FOCO e são de total responsabilidade de seu idealizador.

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Formado em jornalismo, fui um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.