Aguinaldo Silva fala sobre trauma de “Roque Santeiro” e conta segredos de “Tieta”


Aguinaldo Silva (Foto: Globo/Divulgação)
Aguinaldo Silva (Foto: Globo/Divulgação)
Aguinaldo Silva falou “Roque Santeiro” e “Tieta”, novelas que escreveu nos anos 80 
(Foto: Globo/Divulgação)

Um dos principais autores de novela do país, Aguinaldo Silva falou sobre trauma vivido em “Roque Santeiro”, folhetim de maior audiência na história da TV brasileira, e contou segredos de “Tieta”, outro fenômeno da década de 80.

Em texto publicado em seu site – e reproduzido abaixo -, Silva diz que foi “defenestrado” de “Roque Santeiro” e ficou traumatizado. Na época, o novelista ficou responsável por escrever a trama a partir do capítulo 51, substituindo Dias Gomes. Mas ele foi tirado na produção por volta do capítulo 163, quando Dias declarou que gostaria de finalizar a novela, e assim, escreveu os capítulos finais.

Ainda na publicação, Silva conta segredos de “Tieta”. Ele disse que foi chamado às pressas por Daniel Filho para escrever a novela – que entraria na vaga que seria de “Barriga de Aluguel”, de Gloria Perez – e que descumpriu regra da época, colocando Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn como seus parceiros, e não com o status de colaboradores. O escritor ainda revelou que a cidade cenográfica de “Tieta” ficou totalmente pronta somente um mês depois do início da trama. Confira o texto de Aguinaldo Silva a seguir.

Depois de 32 anos ainda há quem me faça a pergunta:

“Afinal, foi ou não foi você quem escreveu Roque Santeiro?

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Eu respondi a essa pergunta de forma definitiva há 26 anos quando escrevi Tieta. É impossível alguém achar que as duas novelas não saíram da mesma lavra… A não ser que faça isso de má fé ou por causa de alguma picuinha besta. Basta revê-la agora, nesta reexibição no Canal Viva para perceber, mais que o parentesco, a irmandade entre as duas novelas: Roque Santeiro e Tieta saíram da mesma máquina de escrever. E esta, uma Olivetti Lettera portátil, nem ao menos era elétrica.

Sim, fui defenestrado de Roque Santeiro quando faltavam dezoito capítulos para o final, e isso me deixou bastante traumatizado. Logo depois a novela foi espichada em mais trinta capítulos; Aí tentaram me trazer de volta, mas eu me recusei com uma frase curta e grossa: “assim já é desaforo!”. Toda a história um tanto ou quanto sórdida do meu afastamento teria passado em brancas nuvens, não fosse o fato de que ela teve uma testemunha ocular. Esta resolveu contá-la à revista Veja, que a publicou com todos os detalhes. E a partir daí o escândalo em torno da minha saída de Roque Santeiro durante muito tempo foi notícia… Até que, alguns anos depois, Daniel Filho me ligou para falar sobre Tieta.

Eu estava em São Paulo e já anoitecia quando o telefone tocou. Atendi e o Daniel foi curto e grosso: “a próxima novela das oito será Tieta e você é quem vai escrevê-la”. Respondi que “sim, ótimo”, sem saber o que estava por vir. Pois, mal aceitei a tarefa, Daniel decretou: “você tem dez dias para entregar a sinopse”.

Fiquei confuso. Achei que Tieta viria depois da novela já em produção, que era Barriga de Aluguel, de Glória Perez. Mas, quando perguntei a respeito, Daniel foi de novo curto e grosso: disse que a novela da Glória tinha sido adiada e que Tieta estrearia dali a dois meses.

Dois, como diriam os povos de língua inglesa, fucking meses. E a chance única de produzir uma novela melhor ainda que Roque Santeiro e assim mostrar quem fora quem naquela história horrorosa.

Nem pensei duas vezes. Saí correndo até a Livraria Brasiliense, ali na Barão de Itapeteninga, e lá comprei o exemplar do livro de Jorge Amado que guardo como um troféu até hoje. De volta à casa, liguei para Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, disse a eles que ia transformar Tieta numa novela e os convidei para meus parceiros.

(Um parêntese: naquela época as novelas tinham um autor e alguns colaboradores. Não se aceitavam parcerias. O meu convite a Ana e Ricardo provocou muito ranger de dentes. Cheguei a recebe telefonemas de algumas novelistas notórios que me aconselharam a dar aos dois apenas o status de colaboradores. Mas ignorei tudo isso, mantive o que havia proposto a Ana e Ricardo e assim fomos em frente)

Em dez dias a sinopse estava pronta, em vinte dias foram entregues os seis primeiros capítulos, em um mês tínhamos os dezoito que a produção exigia.

Toda a máquina de fazer novelas da Rede Globo foi posta à disposição de Tieta para que se fizesse o impossível: botar no ar uma novela em apenas dois meses. Alguns problemas físicos não foram resolvidos a tempo. A cidade cenográfica só ficou concluída quase um mês após a estréia, pelo que, podem ver agora nestes primeiros capítulos da reprise, as cenas tinham que ser gravadas em plano fechado; inclusive uma, em que José Mayer chega a cavalo, trazendo notícias de Tieta, numa sequência épica.

O resultado de tanta pressa e da minha determinação em mostrar de que máquina de escrever saira Roque Santeiro foi essa que, na minha modesta – e suspeita – opinião, é a melhor e, do ponto de vista de temas, é a mais ousada novela de todos os tempos.

Ou vocês têm alguma dúvida a respeito do que escrevi acima? Se têm, vejam no Canal Viva – Tieta, a melhor novela de todas, está no ar de novo. Confiram.

🚨 Ana Maria REJEITA Davi na Globo e detona o que pensa + Adeus de Mion em canal e Fernanda DESMASCARADA    

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Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.