Autor de “Tempo de Amar” traz experiência dos seriados: “hoje a novela não é mais como antes”


Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) em 'Tempo de Amar' (Foto: Globo/João Miguel Júnior)
Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) em Tempo de Amar (Foto: Globo/João Miguel Júnior)
Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) em ‘Tempo de Amar’
(Foto: Globo/João Miguel Júnior)

Autor e diretor da nova novela das seis ‘Tempo de Amar’, Alcides Nogueira e Jayme Monjardim falam sobre a trama e o processo de criação e realização da história.

Nascido em Botucatu, Alcides Nogueira se mudou para São Paulo com a família aos 17 anos. Logo depois ingressou na Faculdade de Direito com o objetivo de se tornar diplomata. Começou a trabalhar na Editora Abril e foi lá que conheceu Maria Adelaide Amaral, Walther Negrão e Inácio de Loyola Brandão. Ao deixar o emprego na editora, seguiu para uma temporada na Europa e deu início à produção de textos para o teatro. Em 1981, recebeu o Prêmio Molière pela peça ‘Lua de Cetim’ e no ano seguinte pela adaptação do livro ‘Feliz Ano Velho’, de Marcelo Rubens Paiva.

Começou na Globo em 1980 como redator de publicidade, mas o sucesso no teatro fez com que ele fosse convidado para compor a equipe de redatores de teledramaturgia. O primeiro trabalho na área foi ‘Caso Verdade’, em 1982, adaptando histórias enviadas pelos telespectadores. Dois anos depois, trabalhou em parceria com Walther Negrão, em ‘Livre para Voar’. Com o mesmo parceiro, escreveu sua primeira novela como titular, ‘De Quina Pra Lua’ e logo depois ‘Direito de Amar’. Com Ana Maria Morethzsohn trabalhou no texto de ‘O Salvador da Pátria’ e logo depois ‘Rainha da Sucata’, com Silvio de Abreu, com quem ainda colaborou em ‘Deus nos Acuda’, ‘A Próxima Vítima’, ‘Torre de Babel’ e ‘As Filhas da Mãe’. Sua segunda produção como autor principal foi ‘O Amor está no Ar’ e com Gilberto Braga escreveu ‘Força de Um Desejo’, primeira de época de sua carreira.

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Alcides Nogueira também foi autor das minisséries ‘Um Só Coração’ e ‘JK’, ambas em parceria com Maria Adelaide Amaral. Escreveu ‘Ciranda de Pedra’ e ‘O Astro’ (com Geraldo Carneiro). Recentemente, com Mario Teixeira, assinou a autoria de ‘I Love Paraisópolis’ (2015). Agora, em parceria com Bia Corrêa do Lago, com colaboração de Tarcísio Lara Puiati e Bíbi Da Pieve, escreve ‘Tempo de Amar’.

Entrevista com Alcides Nogueira

Alcides Nogueira no lançamento de 'Tempo de Amar' (Foto: Globo/Rafael Campos)
Alcides Nogueira no lançamento de ‘Tempo de Amar’
(Foto: Globo/Rafael Campos)

Como você define ‘Tempo de Amar’?
É uma novela de amor com muitas reviravoltas, um folhetim clássico que se passa entre 1927 e 1930, antes da Era Vargas. Gosto de dizer que não é uma história de amor, são muitas histórias de amor. Amores danosos, culpados, plenos, sofridos. O amor é o motor da trama.

Como foi para você ficcionar um argumento do escritor Rubem Fonseca?
Conheço e admiro a obra de Rubem Fonseca, que é incrível. Mas nunca antes tinha trabalhado adaptando algo dele. Foi muito interessante ficcionar uma história da família do escritor, até mesmo por ter como parceira no texto a sua filha Bia Corrêa do Lago. A história central é inspirada nesse texto.

 ‘Tempo de Amar’ é uma novela de amor, mas em nome dele, alguns personagens cometem absurdos. Você acha que o amor pode motivar ações egoístas e que prejudicam as pessoas?
Sem dúvida alguma! Às vezes o amor é uma força tão grande que bate de encontro com a personalidade da pessoa. O amor é uma força quase sempre misteriosa. A personagem Lucinda (Andreia Horta), por exemplo, é uma mulher traumatizada porque foi abandonada pelo noivo. Além disso, carrega a culpa da morte da mãe. E ficou marcada com uma cicatriz no rosto. Uma menina linda, deslumbrante com uma grande cicatriz, o que a impede de ser feliz. A vilania dela é outra. Ela tem um sofrimento tão grande que quando encontra Inácio, ela agarra essa chance. Eles acabam vivendo uma relação de proteção. Ela age movida pelo amor e, para conseguir o que quer, não tem escrúpulos nenhum. Ela se aproveita da fragilidade dele para levar à frente esse amor egoísta. Em alguns momentos eu sinto raiva dela ao escrever os textos. E em outros sinto profunda ternura.

As questões históricas do período serão retratadas de que forma na novela?
É muito bom ter contexto histórico como pano de fundo. Essa época é muito rica. Você tem artisticamente, em decorrência do Modernismo, a valorização da brasilidade. Além disso, há a discussão da posição da mulher e do negro. No período temos uma série de transformações profundas, vemos o final da República Velha, Getúlio Vargas que voltou para o sul e ficou lá conspirando, até que tomou o poder no Rio. E aí a coisa muda completamente, a Revolução de 30 é um divisor de águas. Esses acontecimentos vão aparecer na novela. Teremos um grêmio na trama coordenado por Vicente (Bruno Ferrari) e Edgar (Marcello Melo Jr) e ali há uma série de apresentações e discussões políticas, com a repressão que no Brasil sempre existiu. Vamos colocar também a queda da Bolsa de Valores em 1929, o que vai afetar profundamente os cafeicultores. Então, parte dos nossos personagens muito ricos vai entrar num outro período da vida, porque é a decadência mesmo.

A novela se passa no fim da década de 20. Nesse período as mulheres começaram a ganhar espaço. Como você vai retratar esse momento na novela?
É um período muito importante para a questão das mulheres, que deve ser discutida permanentemente. É exatamente nessa época que aparecem as primeiras sufragistas, porque as mulheres não podiam votar, não tinham direito algum. No Rio, nesse final da década de 20, a gente percebe que as mulheres começam a ocupar posições muito importantes mesmo. Na parte artística, em decorrência do Modernismo – que começou em São Paulo em 1922 – é incrível a influência de Tarsila do Amaral, de Anita Malfatti, uma série de mulheres interessantes. A poetisa carioca Gilka Machado lança em 1927 um livro chamado “A mulher nua”, onde ela coloca explicitamente a questão da sexualidade feminina, o que ainda hoje é discutido com pudor. Essa é uma pauta que precisa estar na novela sim, pois é sempre atual.

Você é o autor da novela, mas conta com uma parceira no texto e dois colaboradores. Como é esse trabalho em equipe?
Sempre dei muita sorte com os colaboradores. É a primeira novela da Bia, mas ela é muito criativa, o tempo todo busca histórias e tramas. Ela tem uma formação cultural muito sólida e isso ajuda muito. E o Tarcísio Lara Puiati já escreveu comigo ‘O Astro’ e ‘I Love Paraisópolis’, então existe uma cumplicidade muito grande. A Bíbi Da Pieve tem um trabalho que eu admiro muito, ela vem dos seriados. Ela traz essa experiência que é importante, porque hoje a novela não é mais como antes. Além da pesquisa importantíssima da Yara Eleodora. Porque uma novela de época sem pesquisa não funciona.

Como está sendo o trabalho com Jayme Monjardim?
Como sempre, maravilhoso. Em 1985 em minha primeira novela, que escrevi com o Walter Negrão, a direção era do Jayme. Também era uma novela de época, ‘Direito de Amar’. E eu fiquei com o gosto de quero mais. Ele tem uma sensibilidade, é muito doce e ao mesmo tempo muito direto. É um privilegio trabalhar com ele, tem uma bagagem incrível, ele sabe fazer.

Entrevista com Jayme Monjardim
Jayme Monjardim começou na televisão em 1977 ao dirigir um especial sobre sua mãe, a cantora Maysa. Já na Globo foi responsável por produções históricas, como ‘Roque Santeiro’ e ‘Direito de Amar’. Em 1998 dirigiu a minissérie ‘Chiquinha Gonzaga’, quatro anos depois trabalhou com Glória Perez em ‘O Clone’ e, posteriormente, em ‘América’. Jayme também dirigiu as minisséries ‘A Casa das Sete Mulheres’ e ‘Maysa, Quando Fala o Coração’. ‘Olga’ foi seu primeiro longa-metragem, anos depois lançou ‘O Tempo e o Vento’ e está prestes a lançar “O avental azul”. De Manoel Carlos, dirigiu ‘Páginas da Vida’ e ‘Viver a Vida’ e com Benedito Ruy Barbosa assinou a direção de ‘Terra Nostra’. Sua novela mais recente foi ‘Sete Vidas’, de Lícia Manzo.

Bia Corrêa do Lago e Jayme Monjardim (Foto: Globo/João Miguel Júnior)
Bia Corrêa do Lago e Jayme Monjardim
(Foto: Globo/João Miguel Júnior)

Como você define ‘Tempo de Amar’?
É um folhetim dos grandes, onde o amor é o grande protagonista. A história é toda centralizada no romance de dois jovens que se encontram e se apaixonam, mas que o destino faz com que se separem. Além de falar de amor, a novela é feita com muito amor também. E nós estamos vivendo um momento em que é muito importante falar do amor, de esperança. A história é um ‘Romeu e Julieta’ dos anos 1920.

Qual o principal conceito que você usou para criar a linguagem visual da trama a partir do texto do Alcides?
Estamos trabalhando com uma luz diferenciada. Os cenários traduzem um estado de espírito. Para Morros Verdes, a  aldeia  portuguesa,  fizemos uma  cidade toda de  pedra, inspirada  nas  cidades históricas portuguesas. A ideia foi criar uma atmosfera que permite que essa história seja contada de maneira mágica e surpreendente. Ainda em relação à luz, estamos com o diretor de fotografia Nonato Estrela, que é um grande fotógrafo. A ideia é criar uma luz direcional, uma luz que vem da janela, uma única fonte de luz. Esse é o conceito da fotografia da novela, inspirada em Caravaggio. Você vê a entrada da luz, ela ilumina o alvo e deixa tudo em volta num clima mais escuro. Também nos preocupamos em fazer uma diferenciação estética entre os dois grandes cenários da novela. Portugal será mais antigo, medieval. Já o Rio de Janeiro mostra o clima moderno dos anos 20, 30, uma cidade que já passou por grandes transformações.

Como será a trilha sonora da novela?
É um ponto importante para contar essa história. Estamos fazendo um trabalho musical muito personalizado. Grandes compositores criaram músicas para a novela – Maria Gadú, Djavan, Jorge Vercilo, Zizi Possi, Marcus Vianna. E temos também uma trilha incidental muito bonita, que está sendo toda gravada em Budapeste pelo maestro Alexandre Guerra.

Vocês vão usar imagens de arquivo da época?
Teremos filmes de época do acervo da Cinemateca Portuguesa que mostram o Porto, Lisboa. E também teremos fotos do período do Rio de Janeiro. Essas imagens estão passando por um processo que dá vida a elas, o que é um charme bacana. É uma técnica de projeção de imagens e camera mapping que transforma fotos em vídeo. A união dos vídeos antigos e dessas fotos animadas traz um clima e um posicionamento histórico para a novela.

Que locações do Rio de Janeiro e do Sul você destaca e o que foi considerado na hora de escolhê-las?Um dos grandes investimentos da novela é em locações. Escolhemos lugares impressionantemente bonitos, poderosos, grandiosos. Quisemos levar para o Sul o clima de Portugal. Temos nossa cidade cenográfica aqui nos Estúdios Globo, mas toda a tradição em termos de imagem nós encontramos em Garibaldi, no Rio Grande do Sul. Lá tem muita colônia italiana, mas com o estilo de vida muito próximo ao dos portugueses. Então, conseguimos criar toda a atmosfera portuguesa em Garibaldi, que é uma zona de produção de vinho, colonos e imigrantes. Lá encontramos também uma atmosfera de época, com uma natureza europeia e construções de pedras incríveis. Também gravamos cenas grandiosas de partida e chegada no Porto do Rio de Janeiro, e na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói.

A novela tem dois protagonistas estreantes, além de um grande elenco jovem. Mas ao mesmo tempo traz atores experientes como Tony Ramos e Regina Duarte. Como você chegou a esse grupo?
Sempre imaginei que essa novela precisava ter um casal protagonista totalmente novo na televisão, porque a história do Alcides Nogueira é tão poderosa que achei que esse frescor nos ajudaria a contar a história com mais credibilidade. E realmente cheguei a esse grupo maravilhoso pensando que os estreantes deveriam estar cercados por um grande elenco. É incrível poder trabalhar com Tony Ramos, Regina Duarte, Letícia Sabatella, Andreia Horta, Jayme Matarazzo, Marisa Orth, Werner Schünemann, Odilon Wagner, Nivea Maria, Cassio Gabus Mendes, Deborah Evelyn, e tantos outros.

Como está sendo a parceria com Alcides Nogueira?
Essa novela é um presente pra mim, pois eu e Alcides Nogueira nos damos muito bem. Ter uma sintonia grande é fundamental para o trabalho. Confiamos muito um no outro, o que faz com que nos sintamos muito seguros.

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Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.