Autor vivenciou o Nordeste para fazer Onde Nascem os Fortes e diz que público pode esperar história de redenção


Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marco Pigossi) em Onde Nascem os Fortes (Foto: Globo/Estevam Avellar)
Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marco Pigossi) em Onde Nascem os Fortes (Foto: Globo/Estevam Avellar)
Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marco Pigossi) em Onde Nascem os Fortes
(Foto: Globo/Estevam Avellar)

Autor de Onde Nascem os Fortes, George Moura vivenciou o sertão do Nordeste por quase duas semanas para escrever a nova trama das onze da Globo, que estreia nesta segunda-feira (23). Com o parceiro de trabalho, Sergio Goldenberg, que também assina a autoria, desenvolveu a supersérie com personagens que fogem do maniqueísmo e uma história de “coragem” e “redenção”.

Moura tem em seu currículo seis indicações ao Emmy International Awards por ter assinado roteiros de episódios do programa Por Toda Minha Vida. A parceria com o diretor José Luiz Villamarim vem de longa data, desde as gravações da novela O Rei do Gado, em que Moura autou como assistente de direção. Seus últimos trabalhos juntos foram as minisséries Amores Roubados, O Canto da Sereia e a novela das onze, O Rebu, e, no cinema, no longa-metragem Redemoinho, vencedor do júri especial no Festival do Rio, em 2016, e do prêmio de melhor direção e de melhor filme pelo júri do FESTin, festival de cinema itinerante da língua portuguesa, em 2018.

Formado em jornalismo e com mestrado em artes cênicas, Moura também assina o roteiro do longa Getúlio, de João Jardim, e do filme Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, ganhador da Palma de Ouro de melhor atriz, no Festival de Cannes, em 1998. Desde 2017, o pernambucano atua como supervisor na Casa dos Roteiristas, espaço mantido pela Globo para desenvolvimento de projetos. Seu último trabalho como supervisor de texto foi em Cidade dos Homens.

Goldenberg nasceu no Rio de Janeiro, estudou cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF) e iniciou sua carreira como colaborador do documentarista Eduardo Coutinho. Escreveu, em parceria com Rosane Lima, e dirigiu o longa-metragem Bendito Fruto, lançado em 2005. Desde 1995, é autor-roteirista da Globo, onde colaborou com programas, seriados e novelas, como Duas Caras, Força Tarefa, O Caçador, Ilha de Ferro, entre outros. Com George Moura, escreveu as minisséries O Canto da Sereia, Amores Roubados e O Rebu, que marcou sua estreia como autor titular na Globo.

+ Saiba quem é quem na nova trama das onze da Globo

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Confira a seguir a entrevista com os autores de Onde Nascem os Fortes.

Sergio Goldenberg, José Luiz Villamarim e George Moura (Foto: Globo/Paulo Belote)
Sergio Goldenberg, José Luiz Villamarim e George Moura
(Foto: Globo/Paulo Belote)

Em Onde Nascem os Fortes, o sertão brasileiro tem papel fundamental. Por que construir essa trama ambientada nessa região?
George Moura – O sertão é um personagem. Desde Amores Roubados, sempre tivemos o desejo de voltar à geografia do sertão para contar novas histórias. É um lugar com uma atmosfera mítica, que tem relação profunda com a formação do Brasil. Além do mais, dramaturgicamente, esse confronto entre o velho e o novo é profícuo. Lembro sempre do clássico livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, em seus três grandes movimentos narrativos: A Terra, O Homem e A Luta. Onde Nascem Os Fortes, como estrutura, embora não tenha exatamente partido daí, flerta com essa ideia. Elegemos aqui três grandes forças, a Terra, O Céu e o Coração em movimento, cada um representado por um personagem. Também é uma história que precisa ser passada naquele lugar de geografia horizontal e de conflitos tão verticais. E isso só foi possível pela maneira que narramos e pela condução que o diretor artístico, José Luiz Villamarim, e toda a equipe teve para entrar nesta aventura. São quase seis meses de filmagens em diferentes lugares do Nordeste, que dão uma unidade a essa cidade imaginária chamada Sertão. Considerando a obra completa, temos um grande número de cenas externas, num mergulho intenso de trabalho coletivo. É como se faz nos bastidores dos grupos de teatro: antes de entrar em cena, repetimos, todos os dias, um mantra para tornar esse trabalho possível: “eu junto minha mão à sua. Eu uno meu coração ao seu. Para que juntos possamos fazer o que não posso e não quero fazer sozinho”.

Sergio Goldenberg – A gente quer, essencialmente, mostrar um Brasil que nem todos os brasileiros conhecem. Em Amores Roubados, retratamos o sertão do rio São Francisco. Em Onde Nascem os Fortes, vamos para uma região de mineração e de muitos fósseis. Um lugar que já foi um grande lago no passado, cheio de peixes e crocodilos, e que hoje não tem água. A cidade onde se passa a história parece esquecida no deserto. Tem uma delegacia, um hotel, um bar, algumas casas, uma empresa e um enorme vazio em volta. Aproveito aqui alguns versos do poeta Patativa do Assaré para explicar porque sempre voltamos a esse lugar fascinante e pouco conhecido do interior do Brasil: “Sertão, arguém te cantô/ Eu sempre tenho cantado/ E ainda cantando tô/ Pruquê, meu torrão amado/ Munto de prezo, te quero/ E vejo qui os teus mistéro/ Ninguém sabe decifrá/ A tua beleza é tanta,/ Qui o poeta canta, canta/ E inda fica o qui cantá.”

O sumiço de Nonato desencadeia um monte de acontecimentos. O que esse sumiço significa para aquela sociedade?
Sergio Goldenberg – É ele que faz as duas heroínas deixarem tudo para trás e enfrentarem o sertão. É esse fato, o sumiço de Nonato, que também mostra o apego do sertanejo aos códigos de honra. Mexeu com um parente meu ou com amigo, vai ter confusão, vai ter briga, independentemente da lei. São esses códigos de honra que levam os personagens, numa situação limite, até a ilegalidade.

George, você fez uma longa viagem pelo Nordeste antes de escrever a supersérie. Por que? Fale um pouco sobre essa viagem e no que ela afetou a dramaturgia.
George Moura – Existe uma frase que é atribuída ao filósofo Nietzsche que diz que a boa literatura se faz com os pés. Ou seja, antes de começar a escrever, vamos andar o mundo, levando os olhos livres para contemplar. E assim foi. Caneta e bloco na mão, alguns livros na bagagem, rodei mais de 3 mil quilômetros pelo sertão durante 10 dias, anotando, devaneando, ouvindo o silêncio, comendo carne de bode e cuscuz. A partir daí, fiz com meu parceiro nesta e em outras jornadas, Sergio Goldenberg, um desenho geral de que história queríamos contar. O passo seguinte foi trabalho, trabalho, trabalho, 24 horas por dia, sete dias por semana. É uma obsessão, uma espécie de transe, mais ou menos lúcido. Em muitos momentos que escrevemos algumas sequências já imaginávamos em que lugar elas aconteceriam. Isso, não é o único caminho, mas traz uma verdade a esta história.

Uma das características dos personagens da supersérie é o fato de eles não serem maniqueístas. Seria possível contar essa história sem se valer de personagens com esse nível de complexidade?
George Moura – É sempre bom quando conseguimos acrescentar diferentes camadas narrativas a uma história e ter personagens que nos façam pensar sobre de que lado eles realmente estão. Há uma falha trágica muito rica na dramaturgia que é o abismo existente entre o que o personagem diz ser e o que o personagem, de fato, é. Nesse abismo cabem belas trajetórias dramáticas. Para o espectador, estar diante de personagens assim pode ser fascinante, pois ele passa a seguir um percurso imprevisível. Como espectador, gosto bastante de ter essa experiência ao ver um filme, uma série de TV ou lendo um livro.

Como é a parceria entre vocês?
George Moura – Conheci Sergio Goldenberg, chamado carinhosamente de Gold, um menino de ouro, há mais de 15 anos, num trabalho na TV. De lá para cá, sempre arrumamos um jeito de trabalhar juntos. Tenho inteira confiança nele, profunda admiração pelo talento e olhar dele atento ao mundo e, sobretudo, às pessoas. É parceiro incansável, sempre disposto a buscar o melhor da cena. Um prazer e uma alegria de contar com ele nessa travessia.

Sergio Goldenberg – Conheci o George Moura na Globo há muitos anos. No meio do caminho, a gente foi descobrindo que leu os mesmos livros, viu os mesmos filmes, as mesmas peças de teatro. Acho que tivemos uma educação parecida também. Vem daí a afinidade e a facilidade de trabalhar juntos por tanto tempo. Sem isso, o casamento fica difícil.

E a parceria com José Luiz Villamarim?
George Moura – Villamarim é um parceiro de longa data. Fizemos, juntos, a novela O Rei do Gado, o programa Por Toda Minha Vida – Mamonas Assassinas [indicado ao Emmy Internacional], as minisséries O Canto da Sereia e Amores Roubados, O Rebu e o filme Redemoinho. Ou seja, é uma jornada que agora chega mais plena e madura, mas não menos agoniada. Estabelecemos uma cumplicidade criativa que sempre nos empurra para o risco do invento, mesmo sabendo que estamos fazendo obras para a TV aberta, com o objetivo de atingir o maior número de pessoas possível. Nossas crenças e afinidades estéticas são parecidas e divergentes numa média tênue, que nos embalam em bons embates inventivos. Sempre queremos fazer o melhor, esse é o lema e o respeito por quem nos assiste. Aborrecer jamais. Entreter, encantar e fazer pensar é um desejo sempre.

O que o público pode esperar da supersérie Onde Nascem os Fortes?
Sergio Goldenberg – Uma história de coragem e redenção, que todos nós precisamos nesse momento difícil.

George Moura – Vou pegar emprestado os versos do poeta e cantor paraibano Zé Ramalho, na música ‘Sinônimos’: “O amor é feito de paixões/ E quando perde a razão/ Não sabe quem vai machucar/ Quem ama nunca sente medo/ De contar o seu segredo/ Sinônimo de amor é amar”. Amar. Odiar. Perdoar. Do que você seria capaz?

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Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.