Com a popularização dos programas estrangeiros, cópia não autenticada vira mau negócio
Que na TV nada se cria, tudo se copia é notório. O problema é que, na época de Chacrinha, a quem é creditada a frase acima, era fácil tomar para si a autoria de algum programa sem que os telespectadores desconfiassem da cópia. Mas, com a popularização da TV por assinatura e com a disseminação dos canais internacionais de variedades, difícil é manter a clonagem sem levantar suspeitas.
Na era da TV globalizada, os fornecedores de conteúdo crescem no mundo todo. Por aqui, empresas como Endemol, Fremantle e Cuatro Cabezas emplacam suas atrações em TVs nacionais. O Brasil já viu esse boom dos formatos internacionais há alguns anos, com a chegada do Big Brother e da Casa dos Artistas e, agora, outra explosão começa, com as emissoras abertas investindo sem receios em programas que já são sucesso no exterior.
Quando a Globo comprou da Endemol os direitos do Big Brother, Silvio Santos colocou no ar A Casa dos Artistas, cópia do reality show da Endemol, sem pagar pelos direitos do formato. Naquela época, houve uma proliferação de atrações livremente inspiradas em similares estrangeiros. Hoje, quase todo mundo está pagando. Até o Domingão do Faustão, que fez as primeiras edições da Dança dos Famosos sem pagar pelo formato do Dancing With the Stars – que chegou a pertencer ao SBT -, agora paga para colocar no ar um dos quadros mais populares do programa.
A mania das versões nacionais fez com que a Endemol abrisse, há um ano e meio, um escritório no Brasil. Após a experiência com o CQC, a Cuatro Cabezas seguiu o mesmo caminho e hoje, só em parceria com a Band, já fez cinco atrações. “Os canais estão começando a perceber que as produtoras já conhecem esses formatos, sabem como eles se comportam em outros países e são ágeis em produção”, diz Diego Barredo, gerente de conteúdo da Cuatro Cabezas no Brasil.
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Para Daniela Busoli, diretora geral da Endemol Brasil, o mercado está novamente “aquecido” e a indústria de formatos está crescendo rapidamente. “Há receptividade das emissoras e dos patrocinadores, fora que formou-se uma consciência da propriedade dos direitos de conteúdo”, fala.
Cópia ou criação? Daniela defende que hoje em dia, as pessoas conhecem os formatos, pois têm acesso à internet e à TV por assinatura. A cópia, então, tornou-se rara. “Ainda existe, mas o mercado está agindo bem diferente”, comenta. A executiva diz que, apesar de ser difícil mover uma ação de plágio, está disposta, a defender seus formatos. E avisa: “Não vamos mexer em programas produzidos antes da criação do nosso escritório aqui. Mas, se acontecer agora, vamos atrás.”
A Endemol vai estrear no dia 25, em coprodução com a Record, a versão nacional do Extreme Makeover – Home Edition. Será uma ação social que vai reformar e redecorar creches no Brasil. A apresentação é de Cristiana Arcangeli. Quem assiste ao Discovery Home & Health já conhece o reality que é fonte de inspiração para os quadros Sonhar Mais um Sonho, do Programa do Gugu (Record), e Lar Doce Lar, do Caldeirão do Huck, apesar de a Globo negar. Segundo a Central Globo de Comunicação, o Lata Velha (igualzinho ao Pimp My Ride) e o Lar Doce Lar “são quadros originais do Caldeirão.” Ah, bom.
Já Barredo diz não se importar com o plágio. “Às vezes, outras emissoras não copiam o programa inteiro, só partes dele. CQC é um caso dos que foram copiados, mas não temos interesse em processar, afinal, nós sabemos como produzir com qualidade. As cópias não têm a nossa qualidade”, diz.
Quando compram um formato internacional, as emissoras se comprometem a manter as características básicas da atração, mas podem fazer algumas modificações para abrasileirar o produto. Muitas vezes, as detentoras dos formatos até se envolvem na produção.
“Esse é o segredo do sucesso de um programa em diferentes países: tem de estar bem adaptado em cada cultura”, explica Carlos Gonzales, presidente da FremantleMedia para a América Latina. “É preciso abrasileirar, colocar aqueles elementos que fazem com que o programa tenha identidade local.”
Para Aldrin Mazzei, diretor do Esquadrão da Moda, do SBT (foto na página ao lado), as versões nacionais são bem-vindas e cobrem um problema da TV brasileira: a falta de um departamento de criação que tenha liberdade de ação e de produção. “A criatividade é o problema da TV brasileira, já dizia Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) nos anos 80”, cita Mazzei.
“O conceito da TV aberta em relação à criação é mal organizado. Há pessoas criativas, mas não há acesso aos meios de produção, então, as ideias não saem do papel. A Globo talvez seja a exceção.” Apesar disso, Mazzei não crê que a compra de formatos internacionais iniba a produção brasileira. “Há espaço para tudo na TV.”
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