Gloria Perez diz que se inspirou em livro e revela porque decidiu abordar transexualidade em “A Força do Querer”


Ruy (Fiuk) e Rita (Ísis Valverde) em 'A Força do Querer' (Foto: Fábio Rocha/Gshow)
Ruy (Fiuk) e Rita (Ísis Valverde) em ‘A Força do Querer’
(Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Autora de ‘A Força do Querer’, a nova novela das nove da Globo, Gloria Perez disse que se inspirou em livro para contar a história de Bibi Perigosa (Juliana Paes) e revelou porque vai abordar a questão da transexualidade na trama.

Formada em História pela UFRJ, Gloria começou sua carreira como autora de telenovelas em 1983, com a função de colaboradora de Janete Clair em ‘Eu prometo’. Com o falecimento da autora titular, assumiu a responsabilidade e levou a história até o fim, com a supervisão de Dias Gomes. No ano seguinte, assinou sua primeira novela como titular, em parceria com Aguinaldo Silva, ‘Partido Alto’. É autora de várias novelas de sucesso, como ‘Barriga de Aluguel’ (1991), ‘Explode Coração’ (1995), ‘O Clone’ (2001) e ‘América’ (2005). Suas produções já lhe renderam diversos prêmios no Brasil. ‘Caminho das Índias’ (2009) foi a primeira produção nacional a ganhar o prêmio Emmy Internacional de melhor telenovela. Assinou também as minisséries ‘Desejo’ (1990), ‘Hilda Furacão’ (1998) e ‘Amazônia – De Galvez a Chico Mendes’ (2007). Em 2012, escreveu a novela ‘Salve Jorge’. Em 2014 retornou à TV com o seriado ‘Dupla Identidade’.

Uma marca dos trabalhos de Gloria Perez são as campanhas de alcance social que introduz em suas tramas. Crianças desaparecidas, dependentes químicos, saúde mental, tráfico humano são alguns temas abordados, com ampla repercussão. A campanha contra as drogas em ‘O Clone’ foi premiada nos Estados Unidos pelo FBI e pelo DEA, departamento responsável pela repressão a crimes relacionados ao tráfico de drogas. Em ‘A Força do Querer’, vai abordar a questão do gênero, compulsão por jogo, entre outros assuntos.

Gloria Perez no lançamento de "A Força do Querer" (Foto: Globo/Felipe Monteiro)
Gloria Perez no lançamento de ‘A Força do Querer’
(Foto: Globo/Felipe Monteiro)

Como você define ‘A Força do Querer’?
Um embate de quereres diferentes e, no sentido mais amplo, o universo de duas famílias. Porque a trama parte de uma predição que une dois meninos pertencentes a duas famílias distintas. O desenho da história começa com essas duas famílias e mais aqueles personagens que se relacionam com esse universo, são dois grandes núcleos. A partir daí, entram várias questões. Que quereres são esses? Como eles se organizam? E quando a força do querer de um afeta a força do querer do outro? Todas essas questões serão mostradas através de situações diversas e das temáticas que quis trazer para discussão nesta obra, como a questão do gênero, a compulsão por jogo, sereísmo, entre outros.

O que te levou a escolher o tema central da novela, que trata dos quereres, e os outros temas como o trabalho do Batalhão de Ação com Cães, compulsão, mulheres e homens que amam demais… Como surgiu a ideia de falar de cada um desses assuntos?
Os temas me escolheram, não fui atrás deles. No dia a dia, de repente, surge uma determinada situação que direciona o seu olhar para um assunto. E esses assuntos todos estão acontecendo à nossa volta. Achei muito interessante o trabalho do Batalhão de Ações com Cães e quis trazer para a novela. O policial deste batalhão não existe sozinho, ele e o cão são um só e essa relação é de extrema importância para que eles enfrentem o perigo das operações. A história da Bibi Perigosa me impressionou demais, inspirada no livro dela vou contar até onde uma mulher vai pela intensidade da paixão. E, percebendo que muito se fala de mulheres que amam demais, quis mostrar que homens também ultrapassam seus próprios limites e são desafiados por uma paixão. A compulsão por jogo é outro assunto que me despertou interesse, soube de casos muito curiosos e quis retratar essa dependência e como isso pode interferir num casamento. Foi assim com os outros temas também.

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Sobre o tema central, acho que a gente está vivendo um tempo de embate de quereres. Vejo muito isso em volta de mim. De quereres que se conflitam, que se harmonizam. A própria revolução tecnológica deu muito poder às pessoas. Elas podem se expressar diretamente, não precisam mais de intermediários. Então o querer vem junto com tudo isso e ficou muito mais forte nessa época em que estamos vivendo. São quereres que estão sendo reivindicados e solidificados. Foi isso que me motivou a trazer esse tema para a novela.

O pioneirismo na abordagem de temas pouco explorados e bem contemporâneos são uma de suas grandes características como autora. Barriga de aluguel, em ‘Barriga de Aluguel’, clonagem e a religião muçulmana, em ‘O Clone’, doação de órgãos, em ‘Explode Coração’, deficiência visual, em ‘América’, esquizofrenia, em ‘Caminho das Índias’, tráfico de mulheres em ‘Salve Jorge’, entre outros. Onde você busca inspiração para tratar desses assuntos?
Presto muita atenção no mundo, no que está acontecendo ao meu redor. As pessoas acham que eu enxergo longe. Não! Todas as coisas que eu vejo estão aqui, ao nosso lado. É que muitas vezes não prestamos atenção. Assim aconteceu com a temática de ‘América’, quando eu conheci uma imigrante ilegal em Miami e abordamos isso na história, ou em ‘Salve Jorge’, com o tráfico de mulheres. Todos os temas eram recorrentes do dia a dia, mas a maioria das pessoas desconhecia. No caso do sereísmo, surgiu a ideia depois de ver na TV uma mulher vestida de sereia. Pensei: “Que profissão interessante! Nós nunca mostramos essa profissão em novelas”. Não há um ponto de partida. As ideias vão surgindo.

Em ‘A Força do Querer’, teremos a questão do gênero. Por que você resolveu trazer este assunto para a novela?
Estamos assistindo à desconstrução do gênero e às transformações do mundo atual. Fui atrás de pessoas que vivem isso e conversam abertamente sobre o assunto, ouvi as histórias. Da mesma forma quando escrevi ‘O Clone’, por exemplo. Eu percebi que a revolução genética quebraria muitos limites éticos, entre outras coisas. A partir do momento em que você percebe que alguma coisa está acontecendo, é preciso falar sobre isso. E a novela é uma maneira de você conversar sobre o assunto. Vamos mostrar as dificuldades que nossa personagem trans passa até perceber o que está se passando. Ivana sente uma incompatibilidade entre o seu corpo e sua mente, mas não entende o que é. Para os pais, toda essa situação também é muito difícil. De repente, toda a vivência com aquela pessoa precisa ser ressignificada. Percebi nas minhas pesquisas que isso é um drama muito grande, principalmente para as mães.

Minha intenção com esse tema é discutir sobre a diversidade e tolerância. Nasci, cresci e me formei em um mundo globalizado. Onde eu me criei, no Acre, tinham pessoas de várias origens em volta. Judeus, árabes, gente que ia atrás da borracha para ganhar dinheiro. Então, cada uma dessas pessoas tinha seus próprios costumes e os preservava. Depois, morei em Brasília, onde na época, ninguém era de lá, todos tinham vindo de estados diferentes do Brasil. Para mim, foi muito fácil desde sempre conviver com a diferença. É complicado entender a dificuldade que muitas pessoas têm de conviver com quem é diferente.

Sua obra é conhecida por abordar culturas e povos nem sempre muito conhecidos para a maioria dos brasileiros. E desta vez você opta por mostrar a cultura do Norte do país, especificamente a paraense, com as lendas, a força do boto, o Círio de Nazaré, entre outros. Existe uma razão especial para a escolha de ambientar o início da novela no Pará? O fato de ter sido criada no Acre tem influência nisso?
Tem sim, claro, mas o Pará é bem diferente do Amazonas e do Acre. Tem características muito particulares, aspectos muito ricos e interessantes, que ainda não foram mostrados nas novelas. A linguagem, a dança, a culinária… Além disso, acredito que a gente escreve melhor sobre aquilo que conhecemos. A região Norte é meu universo e quis mostrar de forma mais aprofundada do que na minissérie ‘Amazônia – De Galvez a Chico Mendes’.

E a tribo Ashaninka, que você retrata através da história de Zeca e Ruy? Como conheceu essa tribo e o índio Benki Piyãko, que participa da novela? Qual a mensagem que pretende passar mostrando essa tribo?
Os Ashaninkas vivem no Acre, na fronteira com o Peru. É uma tribo muito bonita, descendente do incas. Existem os incas no Peru, e, na parte do Acre, os Ashaninkas. É a única tribo vestida do Brasil, eles próprios confeccionam suas roupas. Uma marca de roupas famosa fez toda a coleção inspirada na Ashaninka. A tribo é conhecida no Exterior, o Benki já foi a Paris e outros lugares para falar da preservação da floresta amazônica. Esses índios são verdadeiros guardiões da floresta e avisam a polícia sobre desmatamento. Achei que seria enriquecedor para a novela mostrar essa tribo, que tem uma história tão bonita e que muita gente desconhece.

‘A Força do Querer’ marca a sua parceria inédita com o diretor Rogério Gomes. Como está sendo o processo de trabalho?
Está sendo uma parceria maravilhosa. A gente se dá bem e trabalhamos em conjunto. Eu escrevo sozinha, sem colaboradores, mas ouço muito as pessoas. E tem sido muito bom trabalhar com o Papinha. Compartilho todas as ideias com ele e com toda a equipe também. Criamos uma energia ótima.

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Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.