“Não foi egocentrismo, como chegaram a dizer. Pelo menos não conscientemente.”, diz Lauro César Muniz sobre “Máscaras”


 

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Lauro César Muniz

Abatido, porém não destruído.

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Máscaras chega ao fim hoje, mas a trajetória de Lauro não ganha seu ponto final.

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“É meu último trabalho em telenovela,” diz o autor, para, logo depois, emendar: “mas não na televisão”.

Durante a conversa, Lauro admite erros.

E mais: Revela outros que erraram.

“A Novela nasceu sob um clima de hostilidade”, diz.

Da criação dos Zezés à troca de Direção.

Dos atores que não renderam aos que o surpreenderam.

O pai dos “assassinos de Barack Obama” contou tudo.

E, caso você esteja disposto a ouvi-lo, será atingido em cheio por sua paixão.

Ordens de Dallas.

 

Foco Máximo Lauro, prometo me esforçar ao máximo para fugir dos clichês. Mas precisamos começar com um: Você considera Máscaras um fracasso? Ao ver o “Fim”, qual é o seu sentimento ao olhar para a Obra?

Lauro César Muniz Sem dúvida, é um fracasso eloquente de audiência. No entanto, para mim, foi um enorme prazer escrever essa Novela. Baseado na boa receptividade de Poder Paralelo, julguei que estivesse escrevendo para uma grande coletividade. Me enganei. Estava realmente restrito a um público muito especial. Não foi egocentrismo, como chegaram a dizer. Pelo menos não conscientemente. Todo escritor deseja escrever o que ama, isso é óbvio. Mas numa Emissora aberta de televisão não se pode perder de vista o outro, o telespectador médio.

Em determinado momento pensei: vou abrir muito mais para meus colaboradores. Talvez saindo de mim, eles possam encontrar um caminho mais comunicativo. O que aconteceu? A audiência não reagiu. Por quê? Porque eles estavam muito afinados comigo. Leram e opinaram em profundidade sobre os primeiros capítulos. O parecer deles era muito animador.

 

FM A princípio, Máscaras duraria cerca de 200 capítulos. Foram, ao fim, menos de 130. Esse “corte” gerou buracos na trama? A título de curiosidade, quais acontecimentos e/ou revelações ficaram de fora?

LCM Foram 125 capítulos. Mas eu escrevi apenas 117. A direção da emissora diminuiu bastante o tempo dos capítulos (35 minutos de “arte”) para não invadir muito a madrugada. Eu concordei com essa iniciativa, senão a novela terminaria sempre depois de meia-noite e meia.

Não houve buracos na trama. Houve, agora no final, duas ausências graves por motivo de saúde: Francisca Queiroz e Raul Gasolla. Ficam sem desfecho. Uma pena.

Com exceções desses acidentes, contei a história completa. O que fiz foi dar um ritmo mais intenso, na expectativa de que poderia agradar mais. Isso não resultou em audiência melhor. Nada que eu tentei resultou em ganho de audiência. A Novela ficou muito marcada por um início seriamente equivocado: direção sem um tom definido e um erro que cometi com relação aos muitos mistérios que abri sem revelar gradativamente esses ganchos. Os mistérios foram se acumulando em cascata e como a novela ainda não estava no ar (fiz 40 capítulos antes de estrear) eu não percebi (ninguém percebeu) que estava exageradamente criando suspenses sem revelações. Foi meu grande erro.

O grande problema da produção foi implantar a Novela em um navio (cruzeiro normal) onde não havia condições de um trabalho com boa qualidade. Ignácio Coqueiro pagou por isso: começou a dirigir a Novela pelos capítulos 9 a 18. Poderia ter sido gravada com grande antecedência (entreguei o projeto em 2010!) nos estúdios, mas graves atrasos obrigaram o início pelo navio. Um erro fatal! Ao voltar para terra e ir para os estúdios, os cenários ainda não estavam prontos. O Ignácio se desesperou com razão. Ele não conseguia se organizar com sua equipe e cada diretor gravava a novela em um tom. Como ele denunciava essa situação o tempo todo, com razão, acabou entrando em choque com a Direção de Dramaturgia. A novela nasceu sob este clima de hostilidade. Felizmente, em pouco tempo, a administração de São Paulo percebeu os absurdos que estavam sendo cometidos. O assunto foi amplamente divulgado pela imprensa na época quando houve a saída do Diretor. Houve troca de diretor, e do comando administrativo e a Novela “apareceu”: texto, atores e tudo o mais estavam abafados. Um mérito do Edgard Miranda, diretor substituto. Mas já era tarde para resgatar o público perdido.

 

FM Falando de forma direta, Lauro: Máscaras foi seu último trabalho na TV? Se não, poderemos ver uma nova Obra de sua autoria ainda na Record?

LCM É meu último trabalho em telenovela, não na televisão. Vou continuar fazendo minisséries, seriados ou filmes. Vou escrever algumas peças teatrais que tenho projetadas.

 

FM Nas primeiras semanas da Novela, quando os baixos índices se consolidaram, como a Direção da Emissora reagiu? Houve pressão, Lauro? Parte da Mídia chegou a noticiar que você poderia ser afastado da Novela por “estafa”…

LCM A direção da Emissora em São Paulo foi de uma solidariedade a toda prova. Sinto que entenderam as dificuldades que enfrentamos. Em nenhum momento sofri qualquer tipo de pressão, censura ou qualquer palavra de condenação. Eu tive um início de estafa mas em nenhum momento declarei isso publicamente. E se houve alguma ironia da imprensa foi injustiça. Poucas vezes em minha vida profissional fui tão apoiado pela direção de uma emissora como durante Máscaras. Eu ouvia no início frases muito claras como: “o que assistimos não é o que lemos em seu texto”. Com o novo comando do RecNov o apoio foi total.

 

FM O “E Se…” é um exercício inútil, mas e se você pudesse voltar atrás? Quais foram os maiores erros da concepção de Máscaras?

LCM “E se…” é sempre o que nos vem à cabeça diante de um projeto que não dá certo. Houve logo no início, quando o Ignácio vislumbrou que teria dificuldades no navio, uma proposta dele, com meu apoio, de modificarmos o projeto. Manifestei minha vontade de substituir o navio por uma ilha onde aquelas personagens se encontrassem. Claro que o Ignácio me apoiou nisso. Mas o contrato (ou contato?) entre a emissora e a Companhia de Navegação já estava fechado. O grande problema – isso chegou a ser noticiado – é que a empresa de Navegação com sede fora do Brasil não queria que houvesse qualquer tipo de agressividade no cruzeiro. Isso me obrigou a mexer muito no projeto da novela e o navio acabou entrando só como um charme e não como parte essencial para a história. Em minha primeira sinopse a tentativa de assassinato de Martim ocorria no navio. Tive que alterar, deslocar a ação para Búzios, numa parada do cruzeiro. Isso mudou muito a agilidade da ação.

 

FM O diretor Ignácio Coqueiro foi substituído. Afinal de contas, o que ocasionou essa substituição? Foi um afastamento amigável, Lauro? Haveria certa “incompatibilidade” de ideias entre vocês?

LCM Não houve nenhuma incompatibillidade entre mim e o Ignácio. O que houve é que ele estava sem condições de trabalho, exausto e trilhava um caminho sem norte.

 

 

FM Impossível não falar da “Carta de Amor” que seu Elenco publicou. À época, muitos esperavam de você uma reação, digamos, mais “efusiva”. Você saiu pela tangente naquele episódio, Lauro? Afinal, você gostou ou não gostou da Carta?

LCM Meu receio é que a carta do elenco fosse mal interpretada, que passasse a ideia de que eu estava por trás. Há alguns Blogs apressados na interpretação dos fatos. Por isso me mantive à parte. A carta era muito carinhosa comigo, mas colocou parte da imprensa contra a Novela: a poeira das crises (saída de Ignácio) já estava se assentando quando a carta levantou toda a crise de novo. Sei que a intenção foi muito boa e carinhosa, mas em momento infeliz…

 

FM Alguns atores, no entanto, não pareciam tão apaixonados pela Novela. Luíza Tomé reclamou publicamente. Giselle Itié disse que não sabia que horas a Novela começava. Episódios como esses o abatem?

LCM Luiza Tomé foi um erro nosso de escalação. Não era papel para ela. Ela não tinha as características para fazer a Geraldine. Ela foi muito prejudicada por este erro. A Giselle Itié tem razão. Muitas vezes ficamos muito preocupados com a oscilação de horário da novela.

 

FM Durante a Novela, você deu entrevistas completamente sinceras. Expressou dor, decepção, reconheceu erros. Esta deve ser a postura do autor ou este, mesmo consciente dos erros, deve defender sua Obra até o fim?

LCM Defender um erro é sinal de estupidez, desonestidade. Defender uma Obra que começou completamente perdida seria mentir descaradamente ao público. Uma hipocrisia. É o mesmo que esconder um filho defeituoso em vez de expor a própria dor por conviver com este filho.

 

FM Acho os Zezés a ideia mais brilhante já vista em telenovelas. Nossa, Lauro! De onde surgiu a inspiração para criá-los? Sua esposa teve uma atuação mítica…

LCM Os Zezés nasceram há muitos anos quando criei para meus filhos que eram pequenos, um personagem invisível. Eles se divertiam com este personagem. Um dia, com os filhotes na adolescência, eu decidi dizer que o tal personagem fora embora! Pra quê?! Foi uma choradeira! Até hoje meus filhos, já adultos e formados, brincam comigo, lembrando dessa invenção deliciosa. Depois apareceram os netos e esse ilustre personagem voltou a encantar as crianças. Isso ficou na minha cabeça e pensei – por que não jogar isso em uma novela? E assim nasceu o Zezinho, filho invisível dos Zezés. Adorei fazer! Foi a coisa mais bonita de Máscaras e a Bárbara e o Roberto fizeram de forma brilhante! Depois o jogo cômico foi crescendo, criei a Izildinha, baseada também em uma simpática aranha que apareceu no escritório da Bárbara, e que motivava o diálogo entre o personagem imaginário e a aranha, que só falava quando as netas da Bárbara nos visitavam (mentira!!) (risos). E nos divertimos muito com isso. Mas seria apenas uma anedota, para seguir com força tinha que haver por trás uma história trágica! Foi quando os Zezés adquiriram um toque humano sensacional.

 

FM Por outro lado, você criou um triângulo amoroso considerado por muitos, (confesso estar entre eles) tolo; Duas irmãs dividindo o mesmo homem. Não foi um erro, Lauro? Qual era o propósito ao mostrar um relacionamento desses?

LCM Não foi um erro. Duas irmãs com uma vida amorosa desgastada tomam uma decisão perigosa: a produção independente de um filho. E o candidato, escolhido é um garoto bonito e de QI bastante alto, um astrofísico. As duas engravidam e o jogo parece ser muito arrojado até que a realidade vai trazendo o desgaste entre todos que entraram na parceria. Moralista? Pode ser. Mas moralista em um sentido muito positivo. Houve diálogos lindos sobre o tema entre o católico desembargador Sotero e Tônia, a irmã mais velha. Em nenhum momento houve mau gosto no tratamento da história. Houve arrojo, isso sim, mas compatível com os tempos que correm.

 

FM Tomando-se como base sua ideia inicial, quais personagens cresceram mais do que o previsto? E quais “encolheram”?

LCM Geraldine foi a personagem mais prejudicada por erro de escalação. Outras atrizes não conseguiam acertar o tom das personagens. Tinham que encolher – como em toda novela – para não prejudicar a novela. Não posso citar atrizes e atores que ficaram aquém dos personagens. Isso é muito comum em qualquer telenovela.

 

FM Por fim, algo me intriga, Lauro: Por que a cena onde Maria jogou o bebê no rio (ponto central da história) não foi exibida? Você não acha que deixou passar uma das grandes cenas do ano?

LCM Por dois motivos bem definidos: o primeiro, deixar a dúvida por muitos capítulos: a história de Maria jogar o bebê no rio era real ou era trama do Otávio? Assim o Martim vê a questão quando volta de Dallas para a fazenda. O segundo motivo era mais forte: seria de extrema violência a imagem de Maria atirando o bebê no rio. Eu não conseguiria depois dessas imagens resgatar a personagem da mãe.

 

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