Em pleno inverno, é muito bom caminhar pelas ruas de uma cidade praiana. A visão alcança longe, o céu nem precisa estar estrelado para ser atrativo como nesta tarde ensolarada. A ausência dos carros nos permite ouvir o som das casas, onde, mesmo às 4 da tarde, ainda há o barulho dos talheres em uma ou o cheiro dos bolos caseiros dos sábados. Em uma destas caminhadas notei diversas casas ligadas no Raul Gil. Foi impressionante.  Não pude deixar de pensar na baixa audiência revelada nas pesquisas. Baixa? Eis mais uma casa, e outra, e lá de dentro sai a risada do Raul que ecoa na rua vazia.

As pesquisas expressam o oposto do que vejo aqui, mas isso não importa, o interessante é a razão para a turma estar assistindo um programa tão antigo. E aí me veio a lembrança de Sílvio Santos, que também já deveria ter sido desprezado pelos telespectadores, no entanto brilha nas noites de domingo. Por que Raul ainda tem público tão expressivo?! Provavelmente vem do esforço em mostrar talentos reais. Enquanto redes poderosas jogam no palco grandes abacaxis com a desculpa de que é para ser julgado, Raul mostra no seu tablado só o suprassumo dos novatos. Entrou ali, fará boa apresentação. Sem lero-lero, sem enrolação, o que está ali passou pelo filtro do respeito pelo público.

Quantas vezes já vi candidatos a humoristas deixar minha sala em silêncio! Jogam a pessoa lá, que seja ruim, não importa, ocupará 5 minutos do programa, tempo suficiente para chamar mais comerciais e lucrar sem custo. No Raul não vemos isso, e deve ser por esta razão que durante uma bela caminhada numa tarde ensolarada vemos tantas famílias ligadas no homem do microfone dourado. E depois dizem que nosso povo só vê programas que esculacham. Não, não é bem assim. Felizmente ainda temos sensibilidade para aprovar quem cuida com talento dos nossos talentos.