SBT nasceu com apoio do público, simpatia do Presidente e fazendo acordo com a Record


Silvio Santos (Foto: Lourival Ribeiro/SBT)
Silvio Santos (Foto: Lourival Ribeiro/SBT)
Silvio Santos em seu programa no SBT
(Foto: Lourival Ribeiro/SBT)

O nascimento do SBT não foi fácil. Para colocar sua emissora no ar, Silvio Santos venceu jogo de influências, provou que podia colocar um canal de TV no ar, teve apoio popular e a simpatia do então presidente João Figueiredo e de sua esposa, dona Dulce.

“Eu não nasci dono de televisão. Eu fui dono de televisão porque os donos de televisão [da Globo] fecharam as portas pra mim. Quando se fecha uma porta, Deus abre uma janela. Fui obrigado a ser dono de televisão, a comprar 50% de ações [da Record]. Eu não nasci dono de televisão, nasci animador de programas. Continuaria sendo animador de programas se os homens não fossem tão vaidosos, tão poderosos. Sou um homem vaidoso pela minha condição de animador, mas não quero ser um homem poderoso. Não precisa ser poderoso. Sou poderoso na minha consciência”, disse Silvio Santos durante uma “entrevista” no “Show de Calouros”, na década de 1980.

As “batalhas” para conseguir a concessão do SBT
Após da cassação da TV Tupi, feita pelo então Presidente da República João Figueiredo, em 16 de julho de 1980, o governo formou duas redes – uma com quatro e outra com cinco canais -, e as colocou em licitação. Antes que se publicasse o edital, a equipe de Silvio Santos tentou convencer o governo a não abrir essa concorrência, procurando mostrar ao Ministério das Comunicações que seria um desastre para a televisão brasileira a abertura de mais duas redes. Eles argumentavam, com números, que o mercado não comportaria isso. Ainda hoje, o mercado só comporta três redes fortes, para disputar um bolo publicitário, que não é tão grande, conta o livro biográfico “A Fantástica História de Silvio Santos”, escrito por Arlindo Silva, que trabalhou com Silvio durante 25 anos como assessor de imprensa, diretor de jornalismo do SBT e seu porta-voz nas campanhas políticas.

Em trecho do livro, Arlindo conta em detalhes como foram as negociações para conseguir a concessão do SBT. “Nas palavras de Dermeval Gonçalves: “O que nós tínhamos sugerido ao governo era que, em vez de abrir o edital, fortalecesse a Record e a Bandeirantes. Fortalecer, como? Procurando as ‘áreas escuras’ dessas emissoras e concedendo, pura e simplesmente, os canais sem abrir concorrência. Seria uma medida até de salvação da televisão brasileira na época. O que a Record precisava? Precisava de um canal no Rio e em Porto Alegre, onde não tinha. A Bandeirantes só tinha em São Paulo, no Rio, na Bahia, em Porto Alegre e em Minas. Portanto, a Bandeirantes tinha uma rede relativamente boa, mas a Record não tinha nada. Então, em vez de abrir duas novas redes, nos ficaríamos com a Globo, que já era forte, fortaleceríamos a Record, que começava a competir no mercado, e fortificaríamos mais a Bandeirantes, que tinha mais condições que a Record. Mas o governo não quis saber dessa história. Fez ouvidos moucos à nossa sugestão e abriu essas novas redes. Então resolvemos entrar. E apresentamos uma proposta: Silvio Santos viabilizaria a Record. Como tinha canal no Rio de Janeiro, ele se comprometia a transferir para o Paulinho Machado de Carvalho o canal do Rio e negociaria com ele o canal de Belém. Então ficaríamos em igualdade de condições.” “Fomos à luta. Entramos nos dez últimos dias do prazo fixado pelo edital. Tínhamos a simpatia de dona Dulce, esposa do presidente Figueiredo, e a simpatia dele próprio. Nessa história entrou o Carlos Renato, que era muito amigo de dona Dulce, primo dela. Carlos Renato era jurado do programa Show de Calouros e fez um magnífico trabalho para convencer o Planalto de que a melhor proposta era a de Silvio Santos, que tinha tradição em televisão e estava na Record fazendo uma boa programação. Possuía o canal 11 do Rio de Janeiro, que estava funcionando normalmente. E se comprometia a absorver uma parte dos funcionários da Tupi.””Íamos toda semana a Brasília. Conversávamos muito com o dr. Hélio Estrela, consultor jurídico do Ministério das Comunicações. E com o próprio secretário-geral do Ministério, dr. Rômulo Villar Furtado. Estávamos sempre em contato com o dr. Domingos Poti, chefe do jurídico do Dentel em São Paulo. Foi uma batalha, pois havia muita gente boa na concorrência. A Abril, o Edevaldo Alves da Silva (da Rede Capital), o Maksoud, enfim, gente que alegava que Silvio já tinha isto, já tinha aquilo, sem, todavia, conhecer nosso projeto. Quando conheceram, verificaram que nós tínhamos viabilizado todo um esquema para não ferir a lei. Conseguimos, pelo que já tínhamos feito no canal 11 do Rio e na Record, ganhar a simpatia do governo e o apoio popular.”Como assessor de imprensa da TVS, um dia acompanhei Silvio a Brasília. Tínhamos um encontro com duas figuras-chave do governo Figueiredo, os coronéis Octavio Medeiros e Danilo Venturini, respectivamente chefe do SNI e chefe da Casa Militar do presidente. Eu os conhecia dos tempos da revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Conversamos separadamente com cada um deles. Silvio estendeu sobre a mesa, de um e de outro, croquis, mapas, organogramas, desenhos de torres, esquemas financeiros, e detalhou a proposta de absorver parte dos funcionários da Tupi. Eles faziam muitas perguntas, e Silvio ia esclarecendo tudo.Uma semana depois, telefonei ao coronel Medeiros para saber se havia alguma novidade. Com seu jeito seco de falar, ele respondeu: “Está bem encaminhado”. No dia 30 de setembro de 1980, o Ministério das Comunicações abriu as propostas dos candidatos às duas novas redes de televisão. Apresentaram-se nove candidatos: Rede Piratininga de Rádio e Televisão, encabeçada pelo general Sizeno Sarmento; Rede Capital, do prof. Edevaldo Alves da Silva; Rede Rondon de Comunicações, de Paulo Abreu, dono de uma rede de rádios AM e FM em São Paulo; Sistema Brasileiro de Comunicação, encabeçado pelo famoso produtor e diretor de cinema Roberto Farias; TV Manchete, representada por Oscar Bloch e Pedro Jack Kapeller; Grupo Visão, de Henry Maksoud; Rádio Jornal do Brasil, representada por Maurina Dunshee de Abranches Pereira Carneiro e Manoel Francisco do Nascimento Brito; Sistema Brasileiro de Televisão, representado por Carmen Torres Abravanel (cunhada de Silvio Santos), Luciano Callegari e Eleazar Patrício da Silva, presidente do Conselho de Administração do Grupo Silvio Santos; e o Grupo Abril, da família Civita.A batalha política e o jogo de influências a favor deste ou daquele concorrente transparecia pelo noticiário dos jornais. Mas, curiosamente, as previsões sobre os grupos favoritos, segundo jornalistas tidos como bem informados, não incluíam o Grupo Silvio Santos. Os favoritos, segundo esses colunistas “bem informados”, eram grupos jornalísticos do Rio e de São Paulo. No meio desse noticiário desnorteante, Silvio mandou fazer uma pesquisa de opinião pública. Ele queria saber o que o povo pensava sobre a concorrência. Quem afinal merecia ganhar os novos canais de TV? O Ibope foi incumbido desse trabalho. Entre 10 e 14 de outubro de 1980 os pesquisadores do Instituto saíram às ruas no Grande Rio, na Grande São Paulo, em Recife e em Porto Alegre, ouvindo pessoas maiores de 15 anos. A pergunta formulada foi a seguinte: “Para qual desses grupos o governo deveria entregar a concessão de uma nova rede de TV?”.O resultado veio contrariar frontalmente tudo o que havia sido escrito sobre o assunto. A opinião pública não coincidia, em absoluto, com a opinião dos colunistas tidos como “bem informados”. Então Silvio Santos mandou publicar, no domingo, dia 26 de outubro de 1980, os resultados da pesquisa. As autoridades do governo e a opinião pública viram que, pela vontade popular, os canais deveriam ser entregues ao Grupo Silvio Santos, evidentemente os canais a que estava concorrendo. Eis os resultados: sem dúvida era uma manifestação incontestável de apoio, de todas as classes sociais, ao homem que, durante mais de 20 anos (àquela época) levara aos lares brasileiros alegria, informação e entretenimento. Mas não foi somente esse aspecto da questão que levou o público a opinar a favor de Silvio Santos. A capacidade técnica e a solidez financeira foram fatores que transpareceram nas respostas das pessoas pesquisadas.Mas a decisão do governo não sairia tão rápido. O jogo de influências continuava cada vez mais acirrado. As pressões dos grupos interessados eram muito fortes, a ponto de quase exasperar o presidente Figueiredo, que chegou a tomar uma decisão drástica: não receber no Palácio qualquer elemento ligado aos grupos concorrentes. Silvio Santos decidiu, simplesmente, esperar, sonhando com seu canal em São Paulo. Sonhando com sua rede de televisão. Paralelamente a tudo isso, Silvio também sonhava com sua felicidade pessoal. Em fevereiro de 1981 aconteceu um momento marcante na vida do apresentador: seu casamento com Íris Pássaro, celebrado no dia 20 daquele mês. O casamento, em regime de separação de bens, aconteceu na residência do animador. Um mês e alguns dias após o casamento com Íris, Silvio viveu outro momento de euforia. Em 25 de março de 1981 o presidente João Figueiredo assinou o decreto no 85.841, concedendo a rede de quatro canais ao Grupo Silvio Santos: TV Tupi de São Paulo, TV Marajoara de Belém do Pará, TV Piratini de Porto Alegre, TV Continental do Rio de Janeiro. A Empresa Bloch ficou com as emissoras TV Itacolomi de Belo Horizonte, TV Rádio Clube do Recife, TV Ceará de Fortaleza, TV Tupi do Rio e a ex-TV Excelsior de São Paulo”.

SBT no ar

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Silvio Santos na assinatura da concessão do SBT (Foto: Divulgação/SBT)
Silvio Santos na assinatura da concessão do SBT
(Foto: Divulgação/SBT)

“A Fantástica História de Silvio Santos” ainda detalha como Silvio Santos colocou o SBT no ar (confira no final da publicação o vídeo da assinatura de contrato da concessão da emissora). “No dia 19 de agosto de 1981, às 10 horas da manhã, no auditório do Ministério das Comunicações, em Brasília, aconteceu a cerimônia de assinatura do contrato de concessão dos quatro canais ao Grupo Silvio Santos. À mesa que presidiu a cerimônia, ao lado de Silvio Santos, estavam o ministro Haroldo Corrêa de Matos, das Comunicações; Murilo Macedo, do Trabalho; Ernane Galvêas, da Fazenda; e Jair Soares, ex-ministro da Previdência, amigo e admirador de Silvio Santos. Estava também à mesa, o empresário Adolpho Bloch, que recebera a concessão dos outros cinco canais da ex-Rede Tupi.Em tom emocionado, Silvio Santos disse as seguintes palavras, após a assinatura do contrato de concessão: “Peço a Deus que me dê saúde, que me ilumine e me ajude. Peço também que Ele abençoe este país e o povo admirável e carinhoso que aqui vive”.Um fato até então inédito em todo o mundo marcou essa solenidade. A TVS Canal 4 de São Paulo colocava no ar, ao vivo, em cores, as imagens da assinatura desse contrato, ou seja, as imagens de seu próprio nascimento. O fato simbolizou o espírito de pioneirismo que iria marcar a trajetória do SBT no mundo das comunicações. Essa é a razão pela qual se comemora a data de 19 de agosto de 1981 como a do efetivo nascimento do SBT, e não 22 de dezembro de 1975, quando surgiu a TVS canal 11 do Rio, a primeira emissora conquistada. É que em 19 de agosto de 1981 o SBT adquiriu, verdadeiramente, as dimensões de uma Rede Nacional de TV. E que milagre foi esse de fazer a emissora entrar no ar no mesmo instante em que era assinado o contrato de sua concessão? Não foi milagre, muito menos obra do acaso. Foi o resultado de um enorme esforço. Um esforço extraordinário, de um grupo de diretores, gerentes, assessores, engenheiros, técnicos e funcionários dos mais diversos setores do Grupo Silvio Santos, sob o comando de Mario Albino Vieira, então presidente da holding. Esse grupo de trabalho se reunia até duas vezes por semana, e cada membro tinha de prestar contas do andamento da tarefa que lhe estava destinada. Não havia horário de almoço ou jantar nessas reuniões, que em geral se prolongavam pela noite. Comiam-se sanduíches e bebiam-se refrigerantes. O Departamento de Recursos Humanos foi mobilizado para cadastrar e examinar a qualificação profissional de 823 ex-funcionários da Tupi, os quais, pelo decreto da concessão, teriam de ser aproveitados pelo SBT, como de fato o foram. Com um detalhe: o decreto falava em estabilidade de um ano. Silvio Santos garantiu, por vontade própria, dois anos. Depois disso, alguns deixaram a empresa, mas muitos continuam lá até hoje, alguns ocupando importantes cargos.Trabalhando de maio a agosto de 1981, esse grupo de trabalho montou a estrutura técnica, administrativa, artística e financeira que possibilitou à TVS canal 4 de São Paulo entrar no ar no instante em que nascia, quando dispunha de um dilatado prazo para começar a funcionar. Por exemplo: a Rede Manchete, de Adolpho Bloch, que assinou as concessões no mesmo dia 19 de agosto de 1981, como Silvio Santos, só entrou no ar dois anos depois. Para colocar imediatamente a emissora no ar, em São Paulo, os técnicos da TVS haviam feito um projeto em cima da estrutura da ex-Tupi. Esse equipamento todo seria alugado, o que garantiria o sinal no ar em 30 dias. Mas surgiu a dúvida sobre o problema da “sucessão”. Seria um risco enorme utilizar as instalações da ex-Tupi porque o Grupo Silvio Santos poderia, automaticamente, tornar-se “herdeiro” das dívidas da emissora cassada. Isso explica aquelas reuniões de diretores e executivos do Grupo Silvio Santos entre março e agosto: era o tempo necessário para se montar um novo projeto, sem o fantasma da sucessão. A solução foi fazer um acordo com a TV Record (na época a emissora pertencia a Silvio e a família Machado, que tinham 50% das ações cada). O SBT importou dois transmissores RCA, comprou uma antena aqui mesmo e a montou na torre da Record, na avenida Paulista. Mais tarde, o Grupo Silvio Santos arrematou em leilão a torre da ex-Tupi, com restaurante giratório, no Sumaré. E lá instalou sua antena. Em Porto Alegre, a emissora comprou um imóvel no morro de Santa Tereza, o que possibilitou a entrada no ar em 26 de agosto, uma semana após a assinatura da concessão. Em Belém foi alugado um espaço em uma torre já existente na região central da cidade e o sinal entrou no ar em 2 de setembro.Vale lembrar que, como Paulinho Machado de Carvalho se desinteressou por ter rede, o Grupo Silvio Santos comprou a emissora de Belém do Pará. E como Carvalho também desistiu da emissora (canal 9) no Rio de Janeiro, que passara a se chamar TV Corcovado, esta foi vendida para José Carlos Martinez, dono da CNT, com sede em Curitiba. O investimento inicial do Grupo Silvio Santos, na montagem das TVS, foi de 40 milhões de dólares. À medida que mudaram de mãos, as quatro emissoras concedidas a Silvio Santos mudaram de nome. Não havia mais TV Tupi, TV Piratini, TV Marajoara, TV Continental. Todas passaram a chamar-se TVS, as quais, unidas à irmã mais velha, TVS canal 11, do Rio de Janeiro, deram origem ao Sistema Brasileiro de Televisão. Na ocasião, se pensou em vários nomes para batizar a nova rede: Sistema Nacional de Comunicações (SNC); Rede Brasileira de Televisão (RBT); Rede Nacional de Comunicação (RNC); Rede SS de Televisão, entre outros. Mas, em sua maioria, esses nomes já estavam registrados ou se confundiam com siglas já existentes. O nome Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) foi ideia de José Eduardo Piza Marcondes, responsável pelo DOE, que fez as primeiras afiliações de emissoras, aquelas 13 já mencionadas que vieram da TV Tupi”.

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