Veja como Guimarães se tornou braço direito de Bolsonaro desde 2019

30/06/2022 às 6h56

Por: [email protected] (Agência O Globo)
Relação de Bolsonaro e Guimarães se aprofundou ao longo do governoReprodução

As denúncias de assédio sexual contra o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, representam um novo abalo para a campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, mas integrantes do governo ficaram impacientes e constrangidos nesta quarta-feira (29) com a demora na demissão do executivo e o silêncio de Bolsonaro sobre o caso.

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A avaliação é que a cada hora que se passa fica mais difícil blindar o próprio presidente da República da nova crise. Na noite de ontem, quando o escândalo foi detonado por uma reportagem do site Metrópoles, interlocutores do governo se esforçaram para repassar a versão de que o presidente havia decidido pelo afastamento de Guimarães numa conversa que os dois tiveram no Alvorada e que Bolsonaro teria dito que denúncias de assédio são “inadmissíveis”.

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No entanto, embora aliados tenham aconselhado Jair Bolsonaro a emitir uma nota rapidamente anunciando o afastamento do dirigente do banco, prestando solidariedade às mulheres e repudiando o assédio, Jair Bolsonaro segue em silêncio. Guimarães, após participar de um evento pela manhã no qual faz elogios à própria gestão na Caixa, entregou à tarde uma carta de demissão ao presidente, segundo revelou a colunista do GLOBO Bela Megale.

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Entre as dificuldades para o desfecho está a proximidade entre Bolsonaro e Guimarães, aprofundada ao longo do mandato do presidente, no qual o executivo se mostrou um aliado leal e voluntarista. Como presidente da Caixa, foi responsável pela implementação de programas de forte apelo eleitoral, como o auxílio emergencial no auge da pandemia e a criação do Auxílio Brasil.

A relação entre os dois pode ser descrita como um bromance, expressão em inglês que une as palavras brother (irmão) e romance e é muito usada para descrever uma relação íntima e de grande afinidade entre dois homens, mas sem conotação sexual. Trata-se de uma forte amizade. O termo já foi usado para descrever, por exemplo, a relação entre o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, e o atual, Joe Biden, que foi vice do primeiro.

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Além de frequentemente convidar Guimarães para cerimônias no Planalto, viagens oficiais e suas transmissões on-line nas redes sociais, Bolsonaro já deu muitas declarações tecendo elogios ao presidente da Caixa. Já apareceram juntos em comícios, motociatas e até foram pescar juntos.

Pedro Guimarães assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 após ser indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no início da gestão Bolsonaro.

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Ainda na transição de governo, em 2018, Bolsonaro torceu o nariz para a indicação Guimarães por ele ser genro de Leo Pinheiro, ex-executivo da OAS que foi preso na Operação Lava-Jato, mas chegou à conclusão de que o currículo do banqueiro justificava a aposta.

Desde então, afastou-se de Guedes e virou um dos nomes mais próximos de Bolsonaro, e de integrantes da família como a primeira-dama Michelle. Essa proximidade já levou o nome de Guimarães a ser especulado até mesmo para compor a chapa de reeleição do presidente como vice.

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Além de elogiar sua gestão à frente do banco público, Bolsonaro se referia a Guimarães como “amigo” e “excelente companhia”. Em uma das últimas aparições públicas com Bolsonaro, em Balneário Camboriú (SC), Pedro Guimarães disse que já ter feito cerca de 100 viagens ao lado do presidente.

Estava ao lado de Bolsonaro, entregando aplausos e sorrisos, no comício do Sete de Setembro em que o chefe fez ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e à democracia, prometendo ignorar decisões judiciais. Guimarães também participou de motociatas ao lado de Bolsonaro.

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O presidente citou, no dia 19 de janeiro deste ano, que Guimarães era um dos nomes que poderia ser o candidato a vice em sua chapa na disputa à reeleição em outubro. No entanto, ele acabou escolhendo o ex-ministro da Defesa e general da reserva Braga Netto.

Em entrevista ao programa “Pingo nos Is”, da Jovem Pan, Bolsonaro disse que Guimarães e diversas outras pessoas demonstraram vontade de colaborar com o país formando a chapa com ele na eleição presidencial.

A agilidade do executivo para colocar em prática planos do presidente é uma das características que mais atraíram Bolsonaro. No dia 17 de julho de 2021, Bolsonaro fez questão de participar por vídeo de um evento de inauguração de uma agência da Caixa, Missão Velha (CE), mesmo internado em um hospital de São Paulo para tratar obstrução intestinal. Na ocasião, Bolsonaro elogiou a gestão de Guimarães no pagamento do auxílio emergencial:

“Meu prezado amigo, Pedro Guimarães. Parabéns a todos vocês. A Caixa Econômica é o banco de verdade de todos os brasileiros, inclusive nos momentos difíceis a Caixa sempre esteve ao lado do povo brasileiro. Assim foi por ocasião do pagamento do auxílio emergencial. Não é fácil botar o programa pra pagar 680 milhões de brasileiros em poucos dias. O Pedro Guimarães (presidente da Caixa) e o conjunto de servidores da Caixa Econômica Federal cumpriram essa missão e, em menos de 10 dias, estava aí sendo feito o primeiro pagamento do auxílio emergencial para 68 milhões de pessoas no Brasil.”

Em 18 de dezembro do ano passado, Bolsonaro fez um passeio de lancha em Guarujá, no litoral de São Paulo, no dia 18 de dezembro de 2021. Vestido com uma camisa do Santos, ele posou ao lado do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que publicou a foto em uma rede social.

“Indo pescar em excelente companhia”, escreveu o executivo sobre o chefe.

‘Exterminador de bancos’

Em um live no dia 9 de janeiro de 2020, Bolsonaro disse que Guimarães estava de “parabéns”. Ele chegou a dizer que o executivo seria um” exterminador de bancos” por causa das vantagens que o banco estatal vem apresentando com relação a serviços como o cheque especial.

“Já está em vigor o novo valor da taxa do cheque especial, que baixou de 13% para 8%. E isso aconteceu porque a Caixa Econômica botou a 5%. O Pedro Guimarães, presidente da Caixa, está de parabéns. Se ele não tivesse essa iniciativa, a taxa continuaria em 13%, 14%. Vale abrir conta lá, pois ela está na frente dos outros bancos. A não ser que os bancos sigam o exemplo da Caixa. Caso contrário, o Pedro vai matar os outros bancos, o Pedro vai ser o exterminador de bancos com os números que ele está apresentando para o cheque especial e outros itens, como o crédito imobiliário”, disse Bolsonaro.

Em um bate papo com apoiadores, no dia 14 de junho do ano passado, Bolsonaro elogiou Pedro Guimarães, considerado-o uma peça importante para a promoção das ideias do governo.

“O Pedro Guimarães realmente é uma pessoa, uma administração fantástica. Vou falar só um pouquinho aqui, (a medida é) sobre o pessoal da segurança pública”, disse o presidente, segundo um vídeo da conversa publicado por um site bolsonarista.

No dia 12 de janeiro de 2021, Bolsonaro participou da comemoração dos 160 anos da Caixa. No evento, o presidente elogiou e afirmou se orgulhar do trabalho desempenhado pela Caixa. Ele atribuiu ao presidente do banco, Pedro Guimarães, e à primeira-dama a contratação de pessoas com deficiência, como ação de inclusão do governo:

“Também, senhora primeira-dama, você participou e você sabe o seu poder no governo. Em grande parte (devemos) a você e ao Pedro (Guimarães) a contração de 3 mil pessoas com deficiência. Isso era discurso no passado.”

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