Autor de “Velho Chico” conta como surgiu a história e neto diz que “a novela nasceu de três gerações”


Benedito Ruy Barbosa (Foto: Globo / João Miguel Junior)
Benedito Ruy Barbosa (Foto: Globo / João Miguel Junior)
Benedito Ruy Barbosa no lançamento de “Velho Chico” (Foto: Globo / João Miguel Junior)

Edmara Barbosa era criança quando presenciou o pai, Benedito, derramando lágrimas e sorrindo sozinho enquanto escrevia um capítulo de novela. Aquela emoção não saiu da memória. E, através dela, Edmara e o filho, Bruno, navegam para colocar no papel a história de ‘Velho Chico’. “Essa novela nasceu dessas três gerações e do conceito que meu avô sempre prezou em suas histórias: o respeito e o amor pela natureza”, acredita Bruno.

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A história começou a ser concebida por Benedito Ruy Barbosa. Ele é o leme e o comandante deste texto, segundo sua filha e neto. O trabalho de pesquisa empírica realizado por Edmara e Bruno ao longo do rio São Francisco também foi fundamental para dar o tom realista e, ao mesmo tempo, lúdico da novela. “Encontrar com as pessoas que vivem lá, estar em contato com esse rio tão gigante mudou muita coisa. Fizemos, ao todo, quatro viagens, ficando quase seis meses”, lembra Edmara.

Benedito Ruy Barbosa

Benedito é um contador de histórias. Adora lembrar-se de casos e contá-los com uma riqueza incrível de detalhes. Lembra o cheiro, a cor, a ocasião e as pessoas. Já viajou o Brasil inteiro e continuará na estrada.

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É um homem que ama a terra, que tem orgulho da família e do legado que construiu. Aos 13 anos perdeu o pai, virou chefe de família e escolheu as palavras para expressar toda sua emoção. No texto estão suas emoções, suas lembranças e memórias. É através dele que Benedito eterniza sua trajetória.

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Benedito Ruy Barbosa é autor de mais de 30 novelas, entre elas ‘O Rei do Gado’, ‘Renascer’, ‘Esperança’ e ‘Meu Pedacinho de Chão’, todas em parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho. Como jornalista, trabalhou nas redações de grandes jornais de São Paulo, antes de iniciar sua carreira como autor de novelas em 1966, na TV Tupi, com a novela ‘Somos Todos Irmãos’. O primeiro trabalho do autor Na Globo, foi em 1976, com ‘O Feijão e o Sonho’. Benedito também escreveu 12 episódios do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ na versão de 1977, e a minissérie ‘Mad Maria’.

Como nasceu a ideia de ‘Velho Chico’?

Benedito: Nasceu há muitos anos, na década de 1970, quando eu era repórter. Na época fui conhecer o Rio São Francisco. Fui pra lá e levei apenas uma câmera. Fui sozinho. Fiz essa viagem numa gaiola – um barco grande, característico do local. Lá, fiz amizade com o comandante e dormia numa rede, dentro do barco, todos os dias. Era lindo demais! Naveguei por tudo aquilo. Fiquei apaixonado pelo rio. Conversei com esse senhor, que conhecia muitas histórias. Daí nasceu. E é assim que começa a ficção.

Então as histórias se misturam um pouco? A sua vivência e a ficção?

Benedito: Tem a essência dessas histórias lindas dos ribeirinhos, um pouco desse papo meu com o comandante. Eu conto o rio de antigamente, que eu conheci. E minha filha e meu neto contam o rio de hoje, eles são representantes da nova geração. Temos três olhares distintos e críticos. E assim os afluentes destas histórias foram nascendo e ganhando forma.

A sua relação com a natureza também está muito presente na obra?

Benedito: Sim. Eu tenho essa relação desde criança. Fui alfabetizado na oficina tipográfica de meu pai. Desde essa época, eu sempre fui chegado à terra. Passava as férias no sítio do meu tio. Bati feijão, colhi algodão, toquei berrante. Toco até hoje. Viajo esse Brasil inteiro. Vou para Goiás, Amapá… Não canso nunca. Eu sou paulista, e o paulista traz na sola do pé os caminhos da vida. O Brasil é um país tão bendito que tem uma língua única, com raras palavras diferentes. Amo o nosso chão e o nosso país!

Você destacaria o resgate deste orgulho como uma mensagem importante da história?

Benedito: Sim. O brasileiro tem que ter orgulho de ser brasileiro apesar de tudo. Temos um país maravilhoso! Temos que resgatar isso.

Como você define a narrativa desta história?

Benedito: Uma história com alicerce na verdade. Esse Brasil existiu e existe até hoje. Mas o principal são as histórias de amor. Aquele amor passional de ficção, sabe? O amor mais verdadeiro é o de Santo [Rogerinho Costa/ Renato Góes/ Domingos Montagner]. E é o mais sofrido e o mais dolorido também. Esse amor começa de uma forma linda, mas terá muitos obstáculos. Esse amor nunca morre. Cada gesto de heroísmo de Santo tem no fundo a figura da Maria Tereza [Isabella Aguiar/ Julia Dallavia/ Camila Pitanga]. E com ela é a mesma coisa. Ela se casa com o Carlos [Rafael Vitti/ Marcelo Serrado], mas no fundo ela ainda sonha com o Santo.

Como é o processo de trabalho entre você, Edmara e Bruno?

Benedito: Essa história tem mais de 10 anos na minha cabeça. A Edmara e o Bruno estão escrevendo os capítulos e eu leio todos. Estou fazendo a supervisão, com ajuda do Luiz Fernando Carvalho. E sempre acabo dando ideia e palpite de trama [risos].

Como é a sua parceria com o Luiz Fernando Carvalho?

Benedito: O Luiz Fernando faz uma leitura fantástica do meu texto. Ele não erra nunca. Parece que sabe exatamente como eu imagino aquela cena. E quando sente necessidade, a gente se fala, troca. É uma relação que eu prezo demais.

Edmara Barbosa e Bruno Luperi

Como é o processo de trabalho de vocês?

Bruno: O processo acontece de maneira muito orgânica, de forma que parece até difícil definir fronteiras de onde termina um e começa o outro. Essa dinâmica é meio visceral, como se espera de uma relação familiar e profissional entre três gerações de escritores, defendendo diariamente suas crenças e verdades em busca da melhor ideia, melhor fala, melhor ação e por aí vai.

O que as visitas ao São Francisco acrescentaram a ‘Velho Chico’?

Edmara: Encantamento. O cenário e os personagens da trama foram crescendo, ganhando vida à medida que eu corria pelo rio buscando imagens, conhecendo e convivendo com o povo ribeirinho que nasceu e cresceu mergulhando em suas águas.

Qual a simbologia do rio na trama?

Bruno: O rio é a linha que tece o destino de cada personagem. É também a grande serpente, a natureza em toda sua dicotomia, ao mesmo tempo que fornece a vida, tem força de acabar com ela num só instante.

Como você define ‘Velho Chico’?

Bruno: Um resgate. O resgate de um rio. O resgate da consciência do homem na relação com a natureza. De um povo, de suas tradições, de sua cultura, do seu orgulho… O resgate do ser para o ser.

Edmara: É uma saga de duas famílias rivais que vivem à beira do São Francisco. Na primeira fase, pelo chamado do rio, duas crianças nascidas no seio de cada uma dessas famílias se conhecem, se apaixonam, e se separam. Na segunda fase, os dois se reencontram e lutam para resgatar esse grande amor que os uniu. Eles terão que cumprir seu destino, que é trazer a união e a prosperidade, através desse amor.

A saga tem início no final dos anos 1960 e se estende até os dias de hoje. Como foi a construção desses momentos da novela?

Bruno: Na primeira fase se vê o coronelismo imperando na região e as raízes de um amor proibido que nasce às margens do Rio São Francisco. Tudo sempre regado e permeado por arroubos de coragem e valentia, comuns aos homens daqueles tempos. A segunda fase é marcada por um intenso conflito de gerações, que começa quando o fruto desse amor proibido volta para viver ao lado do avô, o último grande coronel da região, representante de um mandonismo decadente que não parece fazer o menor sentido para as gerações futuras.

Qual a principal mensagem da trama?

Edmara: O amor e a natureza. Só o amor é de fato capaz de transformar as pessoas e conceitos arcaicos. E sendo bem simplista, precisamos voltar nosso olhar para nosso modo de produzir e de viver sobre esse planeta. Os recursos naturais estão se esgotando, e cada um de nós é responsável pelo quinhão que destrói e pelo que salva.

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Formado em jornalismo, foi um dos principais jornalistas do TV Foco, no qual permaneci por longos anos cobrindo celebridades, TV, análises e tudo que rola no mundo da TV. Amo me apaixonar e acompanhar tudo que rola dentro e fora da telinha e levar ao público tudo em detalhes com bastante credibilidade e forte apuração jornalística.