Contos de Terror – O Despertar – 2º Episódio


No episódio anterior de “O Despertar”. (trechos)

…“Esse cara chegou aqui não faz nem um mês e já está se achando o foda.”…
…“Deve ser um viadinho fresco. Ele tem uma cara de idiota que eu vou te falar…”…

…- Mas você tem namorada? – perguntou a garota de cabelos cacheados e sardas no rosto. Seus olhos brilhavam, assim como os olhos das outras garotas ao seu lado. Estavam todas envolta da mesa de Daniel. Algumas haviam puxado suas cadeiras próximo a ele, enquanto outras se contentavam em ficar de pé com as mãos apoiadas na superfície da mesa do garoto, escutando o que ele responderia…

…O sinal da escola tocara.

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– Hum, legal! – dissera a garota, esticando seu pescoço para dar uma olhada no corredor atrás do garoto – Bom, tenho quer ir, senão não entro na sala. Tchau!

– Tchau – despediu-se Daniel, encarando a figura da garota até ela entrar na sala com os dizeres “1C” escritos na porta.

– Oi, moço! Você é o menino novo, não é? – perguntara uma garota às costas de Daniel, acompanhada por mais duas garotas com seus sorrisinhos irritantes no rosto.

Saco” pensou Daniel, ao encarar as garotas que se entreolhavam excitadas.

– Sim, sou eu – respondera ele de mau gosto, sabendo que aquela não seria a única pergunta que as garotas iriam lhe fazer…

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2º Episódio

Os dias passavam-se depressa e as coisas pareciam estar começando a se ajustar. Após dar o fora em metade das garotas do colégio, o assédio havia diminuído.

Daniel conseguira fazer amizade com uns garotos de sua classe – os menos populares da sala, para o desprezo dos demais garotos que queriam aumentar sua popularidade às custas de Daniel – e ainda tinha a garota do 1º C, com a qual Daniel conversava de vez em quando. Seu nome era Thaise.

Seus novos amigos, Jonas e Michael, poderiam ser classificados socialmente como fracassados. Garotos frustrados com sua inexperiência com garotas, viciados em videogame e exclusos da vida em sociedade. Os nerds, como os outros garotos da sala costumavam lhes chamar. Mas independente dos rótulos dado a eles, aqueles dois eram sinceros e amigáveis, o que contrastava com a personalidade dos demais garotos da sala, que esbanjavam arrogância e falsidade.

A Thaise era uma garota diferente. Daniel não ficava sem assunto quando estava junto a ela, não ficava acanhado e entediado ao seu lado como na presença de outras garotas e suas ideologias eram as mesmas acerca de todos os assuntos.

“Ela é perfeita.” pensava ele à noite, deitado na cama. Sonhava com ela, com seu sorriso, com sua excêntrica beleza. A maioria dos garotos podia achar ela uma garota normal, mas Daniel começara a achá-la a garota mais linda do mundo. E após dispensar a garota mais bonita do colégio com a desculpa de que ela tinha “quadris largos“, ele descobrira que realmente gostava da Thaise.

Sua vida estava tomando um rumo o qual Daniel estava começando a gostar. A vida nova a qual ele almejara após deixar sua cidade-natal.

– De onde você conhece a Thaise? – perguntou Jonas, colocando o boné na cabeça sobre os cabelos castanhos cacheados e volumosos.

– Conheci ela na semana em que entrei aqui no MAC. Trombamos no corredor sem querer e acabei descobrindo que ela também curte mangá. – respondeu Daniel, tirando uma prancheta presa a uma pasta catálogo de dentro da mochila. Havia pegado o costume de desenhar com a Thaise durante o intervalo e descobrira que a garota tinha o dom natural da coisa.

– Hum – murmurou Jonas, em tom de entendimento. – Eu lembro que o namorado dela comprou uma briga do Michael ano passado, lembra, Mike? Quando aquele cara do terceiro ano quis te bater por você ter acertado aquela bola de papel nele?

Daniel reagira estranhamente ao som da palavra “namorado” e Jonas notara isso. Sentiu seu estômago afundar e seu coração contrair-se de um modo doloroso. Tentou não transparecer tal sentimento para os amigos, mas Jonas já havia pego a coisa toda no ar.

“Ela tem namorado” pensou Daniel. “Vai se foder, ela tem namorado…”

– Ah, sim, lembro. Aí ele foi lá e me defendeu. Serei grato a ele pelo resto da vida. – comentou Mike enquanto arrumava sua mochila para sair para o intervalo. – Ele terminou o Ensino Médio no ano passado e saiu da escola. Ela ainda está namorando ele?

– Não sei. Bom, vou indo… – disse Daniel secamente, caminhando para a porta da sala.

– Ei, o sinal ainda não… – começara Mike, mas Jonas interrompeu-o, pousando a mão sobre seu ombro.

– Deixa. Acho que falamos sobre algo que ele não sabia – disse Jonas, olhando para os umbrais da porta da sala de aula, por onde Daniel acabara de passar.

– Você está estranho hoje – disse Thaise, olhando para Daniel pelo canto do olho, enquanto desenhava. – Está quieto demais.

– Besteira – murmurou Daniel, apagando com a borracha plástica uma linha que traçara pela décima vez sobre a folha em branco.

– Se você diz… – consentiu Thaise, voltando sua atenção para seu próprio desenho – Malditas mãos. Isso está parecendo mais com tentáculos do que com dedos…

Comentários como esse geralmente arrancavam um sorriso zombador do rosto de Daniel, seguido por um comentário ainda mais absurdo ou uma piada infame. Mas não naquele dia.

– Criatividade zero hoje, hein? – comentou ela, olhando para o papel cheio de borrões e linhas mal apagadas, pousado sobre a prancheta de Daniel. Não conseguira desenhar nada.

– Pois é… – disse Daniel, deitando-se de costas sobre o gramado e largando a prancheta ao seu lado. Fitava as nuvens que corriam pelo céu, lentas e distantes, como seus pensamentos.

Merda…”

– Ei, ficou legal? – perguntou Thaise, erguendo a prancheta com o desenho e mostrando-o para Daniel.

Uma garota de olhar meigo e cabelos claros até a cintura criara vida em meio aos esboços que ainda a sustentava no papel preso à prancheta que Thaise segurava, sorrindo.

“Esse sorriso…”

– Linda… – disse Daniel, devolvendo-lhe o sorriso. Só não sabia se o comentário que lhe escapou foi sobre a garota do desenho ou se sobre a garota que o segurava.

“E a vida me ilude, mais uma vez” pensou Daniel, deitado sobre a cama com os braços cruzados atrás da cabeça enquanto fitava o teto, pensativo.

Jonas ligara para ele convidando-o para ir à sua casa jogar uma partida de Winning Eleven* ou Guitar Hero** como em todas as tardes. Mas naquela tarde Daniel recusara o convite. Sentia algo estranho no corpo. Uma sensação de que sua cabeça e seu coração fossem explodir esfacelando seu crânio e abrindo sua caixa torácica a qualquer momento, espalhando seus órgãos internos pelo quarto e tingindo suas paredes brancas com a cor viva do sangue fresco.

***

– Acho que ele deve estar péssimo – comentou Jonas, após desligar o telefone.

– Realmente – concordou Mike. As mãos movimentavam-se com tamanha precisão agarradas ao controle do videogame, os olhos vidrados na televisão. – Tanta garota gata pro cara pegar e ele vai se envolver logo com uma garota que já tem namorado. Fala sério.

– Certos sentimentos não podem ser controlados, não é? – disse Jonas sabiamente, sentando no sofá.

Mike sorriu ironicamente.

– Garotas são garotas, cara – disse ele no mesmo tom de Jonas, sem desviar os olhos da televisão – Você beija e come, apenas pra satisfazer seus desejos. Não tem essa de “sentimentos“. Esse negócio de paixão, amor e essas coisas nunca acabam bem. Sabia que a maioria dos assassinatos de hoje em dia são por motivos passionais?

Jonas olhou-o de esguelha e devolveu-lhe o sorriso.

– Às vezes você me assusta, cara – disse ele, por fim. – Sério mesmo.

As ruas estavam desertas e escuras naquela noite. A luz da lua iluminava timidamente o caminho que Daniel percorria arrastando um velho pé-de-cabra enferrujado pela superfície áspera do asfalto, fazendo o som de tal ato ressoar pela rua e pelos becos que desaguavam dela.

Não havia ninguém ali para presenciar aquele som. Ninguém para presenciar o que o garoto estava prestes a fazer.

Daniel parara a poucos metros de uma casa com a luz da varanda ligada. Um grande corredor inundado pela escuridão da noite era a única coisa que ligava a casa até o portão da rua.

O garoto caminhou lentamente até a sombra de um poste inativo próximo à casa, onde permaneceu imóvel durante alguns minutos, como uma fera à espreita acobertada pelo manto negro da noite. Sua respiração estava pesada, ofegante. A inatividade do poste transformara aquele local da rua num ponto cego. Ninguém perceberia sua presença.

Após alguns minutos de espera, um casal saíra da casa de braços entrelaçados, emergindo da escuridão do corredor. O rapaz desvencilhara-se delicadamente dos braços da garota e dera-lhe um abraço seguido por um beijo longo e demorado.

Daniel não reconhecera o rapaz. Uma sombra disforme pairava sobre seu rosto como uma ridícula censura de documentário policial. O rapaz dera as costas para a casa e a garota inclinara-se parcialmente para além do portão, acenando com a mão em um último gesto de despedida.

Neste momento, o rosto de Thaise fora banhado pela fraca iluminação da rua.

Continua…

Contos de Terror – O Despertar – de Segunda a Sexta ás 20h aqui no TV Foco

Autor: Kenny Reed


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Escreve sobre Televisão desde 2008